terça-feira, 7 de setembro de 2010

Andréa de Azevedo e seus poemas híbridos

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A poeta Andréa de Azevedo já vem se apresentando no Uma Noite na Taverna desde o ano de 2006, quando o evento estava em sua terceira temporada e acontecia no exinto Jardim da FASG, no centro de São Gonçalo, antes de passar para o Centro Cultural Joaquim Lavoura. Carismática e de uma beleza terna, tanto em sua pessoa como em sua índole artística, Andréa que é tavernista convicta, traz em sua poesia as influências que variam do Romantismo, Simbolismo e Modernismo, num apelo em que seus versos cantam paixões e as desilusões do cotidiano.
Andréa escreveu seus primeiros versos com 13 anos para Feira do Livro na escola onde estudou. Em 2000, recitou pela primeira vez na Universidade Salgado de Oliveira sua poesia CLASSIFICADOS e ao lado do quarteto Ver o verso, fez uma participação especial, recitando com Claufe Rodrigues e Alexandra Maia.
Em 2004, ingressou no curso de Letras da Faculdade de Formação de Professores da UERJ em SG, o que possibilitou seu maior contato com a Literatura Brasileira, Portuguesa e Universal. Atualmente, é professora formada e Pós-Graduada em Leitura e Produção de Textos pela Universidade Federal Fluminense.
Frequentadora do evento, Uma Noite na Taverna, Andréa sempre procurou manter contato com diversos estilos e poetas. Por isso, pode-se dizer que sua escrita é híbrida, embora assuma um estilo mais contemporâneo.
Influências de sua escrita: Clarice Lispector, Cecília Meireles, Adélia Prado, Hilda Hilst, Lygia Fagundes Telles, Florbela Espanca, Fernando Pessoa, Cruz e Sousa, Álvares de Azevedo, Paulo Leminski e João Cabral de Melo Neto entre outros.


No dia 10 de setembro, nessa sexta-feira, Andréa de Azevedo estará de volta à Taverna com a beleza de sua poesia.

POESIA

Relicário do amor
carregas do lado esquerdo, um coração
e do lado direito,
a dor de todos os males.

Com ímpeto, se obriga
Com força, arrancas do peito
o cordão que unia a medalha,
lançando-a ao mar.

Lá do fundo, relicário é concha.
Retratos são sorrisos
imersos em águas passadas.

Do cais, a muralha empedrada
No porto, embarque e
desembarque da vida.

Ps: De nada me serve os sonetos.
É apenas uma vaidade colecionada.

***

Piegas.

Faça seu julgamento
Dê sua sentença
fique armado até os dentes
como sempre preferiu!
Ainda sim, a coragem
lhe falta para atirar
a primeira pedra.
A primeira pedra?
Não é aquela
que parou no meio
do caminho.
Com minha ajuda
soube remover
suas pedras
e aproveitar o caminho
que o conduzi.
Passaste pelo caminho,
já não há mais como voltar.
Ateou fogo com suas próprias mãos
jogando suas bingas de cigarro.
Fumaste todas cartelas possíveis,
mesmo sabendo
que aquele cheiro ia me incomodar.
Eu respirei o ar de suas camisas
empregnadas de perfume
para tapiar, respirei.
Pensei que a náusea
iria passar...
e o cheiro ainda me incomoda.
Segui o outro caminho
aquele de antes:
o breu das noites solitárias
o brejo, o coaxar dos sapos...
Respirei, o cheiro dos livros
guardados.
Permiti que as traças roessem
minhas pequenas lembranças.
Cenas de um filme
se passou.
Entre o farol e as buzinas
do carro
o olhar se perdeu.

17/02/2010 (início) 06/03/2010 (término).

***

Eu queria sim, poder matar meus fantasmas um a um.
Mas, eles ressurgem das sombras, puxam meus pés
quando apago a luz e faço da minha alma o escuro.

Eu queria sim, não confundir aquele perfume
entre tantos outros.
Vinho sorvido em goles amargos
me apego naqueles olhos tristes de menino
sem poder enxergar o modo traiçoeiro
que se esconde lá no fundo.

Meu sonho era ser inatingível.
Vestir uma armadura pesada, pra se fazer de forte.
Criar escudos para me defender do desatino,
que por dever, devo eu enterrar.

Me arrasto pra perto de cada indício que te traz...
É como uma droga, uma dependência barata ...
te fazer como algo intocável.

Voltar a fita por muitas vezes naquele beijo ...
parar o tempo em intimidades profundas,
pra depois cair a ficha que nada disso te teve
a menor importância.
Tombo mais alto esse...
te vê acenando como se embarcasse numa viagem sem volta.

Porque eu era a saída e não a solução. A medida paliativa
da terceira pessoa.

Perder o que mais prezava...perdi.
Daqui segue um olhar distante e assiste ao
descompasso de seu caminho.

***

Conheça mais do trabalho da poeta:

http://desengavetados.blogspot.com/

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