terça-feira, 27 de julho de 2010

Uma Noite na Taverna apresenta A Sociedade Epicuréia

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O evento Uma Noite na Taverna pela primeira vez homenageará a polêmica Sociedade Epicuréia. A Taverna contará com a poesia dos poetas residentes Pakkatto, Rodrigo Santos e Romulo Narducci e com os poetas convidados Fagner Gabriel, O Mensageiro Obscuro, Jéssica Hall e Juliana Bittencourt. O teatro terá sua presença com a esquete Uma Noite ao Luar, com Reynaldo Dutra (da Cia Quarto de Teatro), com um texto baseado no livro Macário, de Álvares de Azevedo. Ainda no local exposição de caricaturas de Adam Rabello e o lançamento do livro de contos "Pulhas", de Sérgio Santal. O Uma Noite na Taverna acontecerá na sexta-feira 13 de agosto, no SESC São Gonçalo, com entrada franca.

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A SOCIEDADE EPICURÉIA

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"Convivas do prazer, vinde comigo
Ao falgar dos festins; - encham-se as taças,
Afine-se o alaúde.
Salve, ruidosos hinos desenvoltos!
Salve, tinir dos copos!
Festas de amor, alegres algazarras

(Bernardo Guimarães - Hino do Prazer)

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Mas o que teria sido a Sociedade Epicuréia? Muito se especula sobre esse movimento artístico acontecido na capital paulista em meados do século XIX. Alguns estudiosos, no entanto até colocam em questão a real existência da Sociedade Epicuréia. Mas o que temos em relato foram os registros documentados por Couto Magalhães em 1859 como uma associação secreta de poetas que buscavam viver os sonhos de Lord Byron. Sua fundação teria iniciado aproximadamente no ano de 1845 com um grupo de boêmios universitários da Faculdade de Direito, instalada no antigo Convento de São Francisco, liderados por Aureliano Lessa, Bernardo Guimarães e Álvares de Azevedo.

Academia de Direito do Convento São Francisco

Naquela época, a faculdade abrigava jovens de diversas partes do Brasil, relatos históricos revelam que os estudantes implementaram novas modas no vestuário e vitalizaram a região com novos hábitos como o de se reunirem nas ruas para se divertirem, criando a necessidade do surgimento de tavernas e livrarias,inaugurando assim o sentimento mais fortalecido de comunidade. Esportes como as caçadas e a natação, também foram incluídos nos novos hábitos, sem falar das bebidas, as novas maneiras de flertar e as orgias, que escandalizavam a comunidade patriarcal.

Muitas lendas cercam o que poderia ter sido a Sociedade Epicuréia, algumas relatam cultos dionisíacos, recitais fúnebres, invocações macabras, orgias intermináveis, uso exacerbado de álcool, entre outras polêmicas, são estes alguns dos relatos que cercavam a casa onde se reuniam diversos poetas e promissores escritores de nossa literatura na época. A casa era conhecida por Chácara dos Ingleses, porque seu primeiro morador foi o inglês John Rademacker, e ficava na Rua da Glória (hoje Praça Almeida Júnior), defronte a um cemitério de indigentes e de escravos.

Rua da Glória

Seus membros tinham a peculiaridade de chamar-se uns aos outros pelos nomes de personagens das obras de Lord Byron em suas reuniões fechadas, pois o intuito era colocar em prática as extravagentes fantasias do mundo literário do poeta inglês. Além de tudo, realizavam ainda manifestações artistas macabras pelas ruas de São Paulo e reuniões cerimoniais nos cemitérios paulistanos.

A CASA DO “CAPIROTO” (LENDAS OU VERDADES?)


Em Macário, obra de Álvares de Azevedo, Satã, ao chegar a São Paulo, diz: “Tenho uma casa ali na entrada da cidade. Entrando, a direita, defronte do cemitério.

Como já dito antes, as sessões realizadas na Chácara dos Ingleses e em outras repúblicas da periferia pelos membros da Sociedade Epicuréia abalaram e muito a pacata São Paulo da época. O historiador Couto de Magalhães conta que "Bernardo, Azevedo e (Aureliano) Lessa dispunham de tudo para o cerimonial da orgia. Tapetes, indumentária, caveiras, ossos humanos, trípodes, caçoilas, armações funerárias etc. Na Epicuréia dominavam reflexos de satanismo". O historiador implementou que as mulheres não participavam das sessões. "Mulheres só eram permitidas nas libertinagens sem cerimonial", explica Magalhães.

Bernardo Guimarães exagerava no álcool, principalmente o éter. "Ficou semanas inteiras sepulto, com os comparsas, nos comodos, bebendo sem parar. Registraram-se cenas indecorosas, impossíveis de serem narradas. E houve desregramentos piores, de horrorizar. As sessões terminavam quando não havia mais bebidas", relata Magalhães. O cerimonial obedecia algumas das orientações byronianas. Na casa eram soltos gatos pretos, sapos, corujas, morcegos, urubus, cobras, lagartixas e tudo quanto é bicho do folclore do horror. Entre uma declamação e outra de poemas, o vinho era servido em caveiras roubadas do cemitério de indigentes. Havia brindes a Baco, a Epicuro e a Sileno. Do lado de fora, sem entender nada e com medo, ficavam os escravos dos estudantes.


Bernardo Guimarães

Em algumas sessões, havia encenações d'A Divina Comédia. Em outras, enquanto alguns estudantes corriam pela casa imitando animais, Bernardo cantava canções macabras e Álvares de Azevedo lia contos de horror.

Os excessos alcóolicos dessas farras prejudicaram a saúde de muitos estudantes, levando-os à morte precoce. Esse não foi o caso de Bernardo Guimarães, que morreu aos 69 anos.

Verdade? Boatos? Bem, falácia ou não, esses fatores contribuíram para que fosse criado um caráter profano e de má reputação ao redor da Sociedade Epicuréia e seus membros. Porém, os fatos combinam-se com os mitos e a veracidade das informações fica comprometida ao analisarmos alguns fatores, como por exemplo:

Álvares de Azevedo possuía uma saúde frágil e uma personalidade introspectiva manifestada em seus versos. Além disso, o estudioso e dedicado jovem, teve uma importante parcela de sua obra construída durante o período que cursou a Faculdade de Direito. Portanto, é espantoso crer que o poeta promoveria e participaria das farras dionisíacas como as que compõem a reputação da Sociedade Epicuréia, e esmaecem no véu dos tempos. Porém, já não se pode dizer o mesmo de Bernardo Guimarães. Ferreira de Resende comenta que "Bernardo, portanto, nem estudava nem acordava para ir a aula; e ele teria com toda a certeza perdido o ano se não fosse um velho bedel da Academia, que se chamava Mendonça, o ajudasse ele não se formaria”. Bernardo definia a vida com uma gargalhada...


Álvares de Azevedo

Lenda ou não, o fato que importa é que a Sociedade Epicuréia é considerada por alguns, um grupo ou um período, onde se consolidou uma intensa e virtuosa produção literária estudantil. Até hoje, não houve um fenômeno de grandiosidade semelhante; e provavelmente não haverá. Isto porque a capacidade daqueles jovens poetas é incontestável, e o romantismo que circundava São Paulo daqueles tempos, jamais voltará a cena.

O crítico literário Antônio Cândido, no Estado de S. Paulo de 25.01.1954, assim sintetizou a Sociedade Epicuréia: "Ponto de encontro entre a literatura e a vida, onde os jovens procuravam dar realidade às imaginações românticas".

Registros relatam que entre os participantes mais ilustres da Sociedade Epicuréia estavam: Álvares de Azevedo, Andrada e Silva, Aureliano Lessa, Bernardo Guimarães, Bittencourt Sampaio, Castro Alves, Fagundes Varela, João Cardoso de Meneses e Sousa (Barão de Paranapiacaba), M.S. Mafra, Múcio Teixeira, Pires de Almeida, Teodomiro Alves Pereira e Zoroastro Pamplona, entre outros.

PARA ENTENDER:

EPICURO


Epicuro de Samos foi um filósofo grego do período helenístico. Seu pensamento foi muito difundido e numerosos centros epicuristas se desenvolveram na Jônia, no Egito e, a partir do século I, em Roma, onde Lucrécio foi seu maior divulgador.

Epicuro nasceu na Ilha de Samos, em 341 a.C., mas ainda muito jovem partiu para Téos, na costa da Ásia Menor. Quando criança estudou com o platonista Pânfilo por quatro anos e era considerado um dos melhores alunos. Certa vez ao ouvir a frase de Hesíodo, todas as coisas vieram do caos, ele perguntou: e o caos veio de que? Retornou para a terra natal em 323 a.C.. Sofria de cálculo renal, o que contribuiu para que tivesse uma vida marcada pela dor.

O propósito da filosofia para Epicuro era atingir a felicidade, estado caracterizado pela aponia, a ausência de dor (física) e ataraxia ou imperturbabilidade da alma. Ele buscou na natureza as balizas para o seu pensamento: o homem, a exemplo dos animais, busca afastar-se da dor e aproximar-se do prazer. É uma doutrina muitas vezes confundida com o hedonismo. O prazer de que fala Epicuro é o prazer do sábio, entendido como quietude da mente e o domínio sobre as emoções e, portanto, sobre si mesmo. É o prazer da justa-medida e não dos excessos. É a própria Natureza que nos informa que o prazer é um bem. Este prazer, no entanto, apenas satisfaz uma necessidade ou aquieta a dor. A Natureza conduz-nos a uma vida simples. O único prazer é o prazer do corpo e o que se chama de prazer do espírito é apenas lembrança dos prazeres do corpo. O mais alto prazer reside no que chamamos de saúde. Entre os prazeres, Epicuro elege a amizade. Por isso o convívio entre os estudiosos de sua doutrina era tão importante a ponto de viverem em uma comunidade, o "Jardim". Ali, os amigos poderiam se dedicar à filosofia, cuja função principal é libertar o homem para uma vida melhor.

Pesquisado em vários sites da internet.
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segunda-feira, 19 de julho de 2010

Evento: Homenagem a Vinícius recheada com diversas vertentes da arte!

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Foi assim: teve a Bossa Nova e a poesia de Vinícius de Moraes, Rock and Roll, dança, teatro, performance poética com carne crua, poesia high-tech, exposição de desenhos, entrevista para a imprensa, vinho e... caldo verde!
Espere! Não faz jus que o evento do dia 09 de julho que foi tão belo e atmosférico tenha tão enxugado resumo! A Taverna trouxe ao público, que se fez presente no SESC São Gonçalo, variadas vertentes da arte a começar pela exposição "Namorados" da ilustradora niteroiense Bianca Tupinambá, que ornamentou com a beleza e a suavidade de seus traços o ambiente da Taverna.

De forma diferente das outras edições que já aconceram durante essa temporada, o recital da Taverna iniciou de forma inovada, a voz de Vinívius ecoou com dois belos poemas e na sequência entrou em cena Camila Mira e Monique Ribeiro que executaram uma belíssima performance de dança ao som da música Falando de Amor, do poetinha.

As lindas bailarinas esbanjaram graça e leveza na execução da performance.


Após a dança, os poetas residentes Rodrigo Santos e Romulo Narducci iniciaram a homenagem poética a Vinícius de Moraes. O bardo tavernista Rodrigo Santos abriu o tributo com louvor.


O poeta Romulo Narducci seguiu com as homenagens. O marcante do evento foi o fato de que os poetas tavernistas decidiram recitar poemas de Vinícius de Moraes não tão conhecidos do grande público. O que valorizou bastante a homenagem que fugiu dos textos, que de tão ouvidos nas salas de aula, tornaram-se clichês. Nesse caso, a poesia foi mostrada com o brilho da arte, pura e simplesmente.



Um lamento ecoava de algum lugar na Taverna, antes mesmo do poeta Romulo Narducci encerrar as homenagens e eis que tomada a cena de assalto, surge Suzanne Moares em sua performance "Vermelho-sangue".

A poeta e atriz (da Oficina Corpo Expressivo, da Cia Quarto de Teatro) apresentou uma performance poética forte e intrigante, com doses de tensões e realismo, surpreendendo o público ao contracenar com carne crua.

A personagem encarnada por Suzanne Morares declarou amor e ódio a todos, retalhou pedaços da roupa e saiu de cena como entrou, com um uivo de desespero.
O trovador tavernista Pakkatto foi o próximo a se apresentar. Inovando e abusando da tecnologia, Pakkatto recitou com a ajuda de seu "controle remoto", e propôs um recital hightech, com fundos musicais e ecos de poemas gravados por ele que contrastaram com sua voz grave ao vivo.



Após o "off" de Pakkatto em seu maravilhoso "controle remoto" poético é hora do teatro reger o Uma Noite na Taverna. Em cena o ator Tiago Atzevedo e a atriz Andréia Bernadete apresentaram a esquete "E Por Falar em Pierrot", de Gabriela Slovick, com a direção de Sérgio Santal.



Gilber T e sua banda entraram no palco da Taverna e mostraram o um Rock Brasil esbanjando muita técnica com letras e canções formidáveis.

Na ocasião Gilber T lançou o seu novo CD "Eu Não Vou Morrer Hoje", que gravou pelo selo da Tomba Records, de Niterói.

Foi um show de muita energia, com muito vistuosismo, que o público curtiu bastante.


Após Gilber T não deixar pedra sobre pedra na Taverna, os poetas Rodrigo Santos e Romulo Narducci retornam ao púlpito para declamar seus poemas autorais. Destaque para a ironia de Rodrigo Santos ao declamar seu poema "Vilipêndio a Vinícius" (que se encontra no Blog Evoé: http://www.evoetaverna.blogspot.com/) que arrancou boas risadas da platéia.


Romulo Narducci apostou em poemas mais românticos e os poetas se despediram do público, anunciando a próxima Taverna em homenagem à Sociedade Epicuréia!


Ah, sim! Ainda teve o vinho (servido pelas mãos dos próprios poetas)...


... e o caldo verde!


Agradecimentos: Ao público sempre presente (já virou bordão), ao SESC pela brava e valorosa parceria de sempre (outro bordão), à "tia" do caldo verde, a jornalista Luana do jornal O Extra (que nos achou na internet e se interessou em cobrir o evento para uma matéria), a Laurinho e Ana (companheiros de anos) e aos artistas que mais uma vez abrilhantaram o Uma Noite na Taverna! Evoé!
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quarta-feira, 7 de julho de 2010

Reedição da Entrevista histórica com Pakkatto

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Pakkatto é sem dúvidas uma das figuras artísticas mais interessantes de São Gonçalo. O tavernista é músico, poeta, escritor, DJ e grande conhecedor da arte no geral. No dia 09 de julho, mais uma vez o multi-artista, carinhosamente apelidado por Romulo Narducci de "O Trovador Tavernista" irá se apresentar no Uma Noite na Taverna e a partir de agosto, mês em que o evento homenageará a Sociedade Epicuréia, irá passar a protagonizar como poeta residente.
A idéia era entrevistá-lo novamente para o Manifesto Tavernista. Mas como a versão anterior desse nosso blog foi invadida e apagada por hackers (fato que nos deu uma baita dor de cabaça, pois tivemos que recomeçar do zero), foi-se embora também muitas matérias importantes, inclusive a entrevista com o Pakkatto, feita pelo tavernista Romulo Narducci em sua antiga residência, em agosto de 2009. Porém, por sorte, os arquivos da entrevista estavam guardados e achamos importante voltar a registrar essa conversa maravilhosa com o nosso trovador tavernista.

ENTREVISTA COM PAKKATTO


Entrevista realizada por Romulo Narducci em agosto de 2009.

Como o Henrique Santos tornou-se o Pakkatto?

- Bem, Pakkatto como poeta, só surgiu para adequar o apelido ao que eu já fazia desde os quinze anos, quatorze anos e tal. Eu nunca comecei lendo poesia. Comecei lendo prosa mesmo, fazendo prosa. Fazendo prosa, fazendo coisas em cima de ficção científica mesmo. Isso eu escrevia desde muito cedo. Fazia aventuras, tipo saga, tinha essa literatura de quadrinhos, uma coisa maneira que desde cedo eu tive a coisa de ler muita prosa. Machado, pô... devorava Machado, era o meu escritor preferido. E quando eu li pela primeira vez o Fernando Pessoa, aí é que a porta se abriu, assim. Porra, Pessoa foi o cara que eu li de cara!

Foi o momento em que se introduziu a poesia?

- É. Eu comecei lendo Fernando Pessoa. Porque o heterônimo... o mais racional... é o Álvaro de Campos, né? Aí eu comecei logo por esse cara. Pô, esse cara que foi... porque o que acontece, eu já tinha uma formação voltada para a matemática, física, ciências exatas, e tinha sempre interesse por filosofia, que fazia parte da minha leitura também. E calhou de eu estar lendo na época, por curiosidade mesmo, porque um autor vai citando o outro, aí comecei a ler Hegel que falava do Kant, lia Kant porque o cara falou, não entendia porra nenhuma, só lia.

E daí ia buscando as referências?

- É. Tinha aquela coisa que, pô - isso é uma coisa engraçada - que o Manuel Bandeira falava: se alguém escreve versos e não te mostra, é por vaidade. Se ele mostra, também é por vaidade. Então eu fazia versos naquela de sacanagem, mesmo. Tipo, tinha facilidade de fazer rima, na verdade sempre escrevi com rima, coisa para impressionar garota, como qualquer adolescente fazia.


Restaurante do SESC, Taverna de Junho de 2004.
É assim que nós sempre começamos, não é? (risos)
- É, pô, fazia um soneto... pá, caraca! Só que aquilo não me... Eu achava maneiro fazer um poema para impressionar a menininha, pra sei lá, conquistar a menininha, fazer ela sorrir, mas achava legal também falar o que eu pensava, o que eu sentia. E quando bateu o Pessoa, eu falei “caraca, maneiro!” O cara tem um questionamento, como questionar o mundo e fazer um verso. Que é uma parada extremamente pessoal e que repercute. Dá uma ressonância, que é uma coisa que eu tenho, é assim, em toda essa minha loucura eu tenho esse conceito de ressonância, assim, quando você pensa numa banda, quando você pensa que aquilo bate em você, pode ser até estranho, pode ser um heavy metal, pode ser um samba, pode ser um pagode, pode ser funk, pode ser que porra for, se ressoar, se passar uma mensagem e se você parar um segundo que seja e o cara falar: caraca, o cara sentiu a mesma parada que eu senti! Ter o mesmo questionamento que eu e você, naquela hora você não está sozinho. Naquela hora, er... volta naquilo que eu falei da filosofia que é aquela coisa que ninguém explica você como ser humano.
A arte tem dessas coisas.
- Exatamente. É a arte que, pô, separa a gente dos outros animais. Não é outra coisa, assim. É a razão? É, mas não é só isso. É a arte que vai fazer você criar a partir das suas experiências. É quando você sente o mundo, que você transforma e colocar em formas e tal. Eu comecei escrevendo... fui escrevendo e tal, migrei para poesia, comecei a escrever coisas que eram até cópias na verdade, meio que...
A poesia veio com quantos anos, mais ou menos?
- Eu tinha uns 15 ou 16 anos. Daí, junto com isso, tinha a coisa musical. Muito engraçado, gostava da música e da literatura. Eu lia ficção científica, quadrinhos, aos 15 anos. A ficção científica e quadrinhos eu já até estava parando de ler, porque eu já via desde os 8 anos, véio, porque de Mônica eu passei para a Marvel, eu li a saga de Thor toda e tal. Daí, pô, música: Titãs! Arnaldo Antunes é um cara que eu gosto pra caralho! Porque eu já ouvia Arnaldo Antunes desde a época dos Titãs. É foda, tem o disco "O Blesq Blom", e eu já começava a escrever ali coisas que eram versões na verdade daquilo que eu tinha visto. Fazia várias versões de músicas, coisas que eram até quase um plágio cara (risos), eu não me sentia nem muito bem com aquilo. Daí eu ficava pensando, como é que eu vou fazer? Já cheguei até - esse caderno eu não encontrei de novo -, mas acho que por influência dessa coisa muito nacional, tentar calçar uma parada organizada, esquematizada, eu sempre pensei nessa coisa: eu tenho que, pô, er... olhar de fora, tentar entender o que eu estou fazendo. Você sabe que tudo é balela, daí eu descobri, quando eu comecei a ler poesia, descobri duas pessoas que se tornaram dois mestres, assim, em termos de escrita. O primeiro, eu tive uma grata surpresa, foi o que me libertou, foi o Mário Quintana. Achei essa parada de fazer poesia simples, foda! E Manuel Bandeira. Manuel Bandeira tem poesias do caralho! Os escritos dele sobre arte são espetaculares, tem uma erudição fodida, mas ao mesmo tempo quando ele escreve, ele se considera um poeta menos. Ela fala assim: “na boa, eu só consigo falar isso, né... eu posso saber, eu posso...” Daí, eu me identifiquei com isso também.

Com o poeta Romulo Narducci, poesia musicada por Pakkatto. (junho 2004)

Ele transmite sua poesia de uma forma bem simples, né?

- Mais simples, é uma coisa mais direta. Sem muita complexidade. Daí, eu encontrei depois Drummond, aí foi a síntese daquilo que eu queria. Podia abandonar a rima. Eu podia voltar na rima. Aí, os dois grandes mestres que quando eu conheci passei a escrever bastante, fiz os meus dois cadernos de poesia... foram Drummond, mesmo. Eu tenho até vários poemas de política literária, consumo imediato, são referências caras ao Drummond. Tenho um poema que eu fiz, “Alguns Poemas de Um Poema Lutador”, que são uma homenagem ao Drummond explicitamente. Quando eu fiz esse poema, eu estava influenciado por ele fortemente, li “Rosa do Povo”, “Antologia”, e li também aquele poeta da Paraíba, que escreveu “Eu”, o Augusto dos Anjos. Que também volta naquela para da que eu falei.

E projetos? Algum projeto para escrever um livro de poesia, ou de conto? Já tem algo no forno? Eu sei que você tem bastantes materiais.

- Bom, a maior parte do material está disponível – o que eu fiz mais nessa fase entre os quinze e os vinte e cinco, eu escrevi bastante, eu tive morando em São Paulo, e nesse período, dessa fase, eu tenho publicado num domínio que eu tenho da Geocities, que eu até vou colocar no meu blog. Mas algumas coisas novas que eu também fiz estão no blog. Quando eu comecei escrevendo assim mais sério e tal, eu logo pensei em sagas, né, aquela coisa mais temática, que era automático. Isso foi se perdendo porque eu começava a fazer realmente poesia quando eu me tocava e depois eu escrevia. Não pensei sinceramente em organizar nada num livro, embora até queira e tal mas eu ainda penso em amadurecer alguma coisa, er... nesse sentido, durante muito tempo também eu estava voltando pra fazer música. Música minha.

Opa, vamos chegar lá! (risos)

É, coisa, que... coisa que eu não deixei num ponto de maturação que eu queria, mas não abandonei a escrita, mas essa coisa que eu tinha antes de organizar essas coisas em livros... eu tinha mais livros, eu tinha, eram na verdade uns três livros. Um era o "Poemas Desconexos", o outro era o "Boas Razões para o Suicídio", que acabou só ficando a música e o outro livro... deixa eu ver se me lembro... foi logo no início, que era... sei lá, era um outro livro, eu não me lembro mesmo, é coisa bem antiga, bem antiga.que era sobre o tempo, eram poemas sobre o tempo. Faz parte dos meus poemas perdidos. Se eu ficar famoso e morrer um dia quem achar esse livro vai ficar milionário (risos). Mas pô, minha mulher deve ter guardado ou queimado isso, não sei. Er... tem esses poemas perdidos aí que, eu boto... é o Tempo, Boas Razões Para o Suicídio e Poemas Desconexos. Hoje em dia, na verdade eu estou até mais preocupado em dar vazão mesmo aos contos que recentemente até republiquei, tem as Histórias Cariocas, foi meu último post aí, no meu blog abandonado (risos).

Qual o endereço do seu blog?

- [ http://www.pakkatto.blogspot.com/ ] É só botar Pakkatto no Google, mas ninguém... É Pakkatto com dois K e dois T! Pakkatto é apelido!

Como surgiu esse apelido?

- Veio de faculdade, né! Apelido é aquela coisa que você tem que botar na cabeça, que apelido quando você gosta, não pega. Então, Pakkatto é aquele apelido que eu tava recusando e tal... e teve uma porra, uma palhaçada lá de He-Man, aí me escolheram para ser o Pakkatto, aí fudeu! (risos) Aí tive que ficar com esse apelido de Pakkatto. Eu falei assim: cara quer ver, eu vou capitalizar esse negócio. O pessoal já me conhecia por Pakkatto, a banda do Pakkatto... Quando eu toquei pela primeira vez eu, quando eu toquei eu já estava aqui no Rio, eu já tava fazendo música, assim, quando eu vim em 96. Então eu já tava querendo aprendera a tocar violão e tal, até hoje eu não aprendi , mas eu continuo fazendo. Eu sigo aquela máxima da música dos Titãs que “Eu não sei fazer música, mas eu faço! Eu não sei cantar as músicas que faço, mas eu canto! Eu não tenho certeza, mas eu acho!” Então eu vou lá, caio dentro e vou fazendo. Então eu fiqui conhecido e tal... “Pô, o Pakkatto toca violão, toca as músicas dele...” E as música que eram... pô, as músicas também estão lá no meu site pessoal e tal, tem o link lá, que tem o Geocities... Vai acabar até o Geocities, né? Mas ta lá, essas músicas eu fiz nesse tempo. Mas pra cá, eu fiz a Playmobill Killers e tal, sempre a mesma coisa, por Pakkatto, aí tal. Teve até um papo bem no começo da Taverna que era de montar a Pakkatto e os Caramurus e tal (risos). Essa parada do Pakkatto ficou forte, mesmo, assim, não teve jeito, tem muita gente que se ouvir falar Henrique, também conhece,Eu até faço questão de botar Henrique Santos...tem que tirar o Silva, não é para criar nenhuma desavença com o Lula, não (risos). Não é para dizer que eu sou parente do Rodrigo, porque cunhado não é parente (risos). Mas é, pô, sempre... do ponto que eu até parti - a gente já teve essa conversa antes -, eu escrevo é mais para ser lido, mesmo. É para despertar na hora em que o cara quer, uma reflexão em cima daquilo que está sendo ouvido, que se ressoa. Então eu não estou pensando em – voltando á sua pergunta – em fazer um livro agora.


Pra você isso soa muito comercial?

- Não, não, ainda não tá valendo a pena, assim, quando tiver uma coisa que eu sentir assim, pô, agora eu vou. Não é nem... pegando muita coisa que eu escrevi, que eu gosto de vários poemas. Tem poemas que eu gosto de graça, que eu acho que nem terminei na verdade. Tem o “I, I, Sir” que é um poema que eu fiz para um amigo meu em cima do post de um blog, eu fiz um poema, assim, escrevi um negócio que achei lindo. Que é... como é que é? “Alguns homens só viajam, algumas...” agora eu não lembro direito, mas é um poema que eu adoro! E eu acho que ainda nem terminei, entendeu? É um poema que está lá e tal, mas as vezes está terminado. Eu gosto muito desse poema, eu gosto muito do poema que eu fiz que eu te ganhei uma... que é um poema que eu fiz quando tinha dezessete anos, ou dezesseis anos. Que alguns poemas... tem o poema O Lutador que é uma homenagem ao Carlos Drummond. Já recitei ele várias vezes na Taverna, er... tem um que recentemente li e me surpreendi, porque achei ótimo, que é... até postei no A Corja*, que é um poema que tem uns cinco anos de idade que é um... É uma oração na verdade, é o “Estrela da Manhã”. Acho aquele poema, porra, maneiro, assim... porque é uma coisa engraçada de como eu escrevo, tem alguns poemas da minha fase madura que são depois dessa coisa de ter escrito muito, assim, escrevia, eu escrevo todo dia! Já joguei muita coisa fora, tem uma coisa que aconteceu...

Que pecado, rapaz... Jogar poesia fora!

- Mas pois é, eu tinha essa mania, que depois eu me arrependi, é claro! Eu peguei muita parada e queimei mesmo! Queimei, cara! Queimei! “Cara não gostei, vou queimar!” Queimei mesmo! Outros a minha mulher rasgou! (risos)

Não vou nem perguntar o porquê, tá?

- Pois é, eu quis matá-la! (risos) Mas, tudo bem! Com essa fase do rasgado eu, porra, achava que aquilo ali não era mais representativo. Tinha muita coisa que eu tinha uns 15 anos. Mas eu guardei várias paradas! Tem várias coisas que, por exemplo: “Minha inconstância / Sofro e sorrio confuso em um lado / Ei, de encontrar minha inconstância / Sorrimos ou sofremos / Nós somos exatos / Vejo repetir-se minha infância / Minha consciência desnuda em atos...” E por aí! Eu escrevi isso, porra, não tinha nem idade. Eu fui recitar e, pô, estava lá guardado! Que é uma coisa também, é uma garrafa que você joga para você mesmo depois. Que se escreve, aí quando você lê de novo, você fala: “Caraca, eu tenho salvação! Pô, eu acredito em mim mesmo!” Tipo assim: “Eu já pensei isso aqui!” É uma forma de manter a coesão, né? Porque dizem, né, que a gente se renova, que o cérebro se renova e tal, e que pouca coisa fica. Das emoções, do relacionamento, da vida e de nós mesmos... Isso é mais complicado, porque a gente muda de idéia, a gente muda de lugar, de vida, de pensamento... Pô, um dia eu... tipo: “hoje eu sou estrela, amanhã já se apagou.” Então, porra, quando você olha para um texto teu, a gente nem se reconhece mais, não é? Essa ponte que você faz consigo próprio, ela não tem valor, cara! Porra, ela é inestimável! Assim, você recupera quem você é naquele momento em que você vai lá! Às vezes você nem consegue ir lá e você vê que isso te dá uma dimensão absurda do que é o ser humano mesmo. Do que são os outros, né? Você diz assim: “Caraca, bicho! Porra, quem eu era naquela época? O que é que eu estava pensando?” Não que aquilo valia ou que não vale mais. Isso nem interessa mais. Parece que você tem lá um retrato teu que você pode ir buscar, um retrato sentimental, um retrato intenso que naquela hora você nem achou tão legal assim.


Uma Noite na Taverna, setembro de 2004.

A poesia tem essa vantagem porque ela mostra realmente as metamorfoses que nós sofremos, a poesia vai retratar os períodos de cada um que a escreve, períodos de vivência e de influências também, não é?

- Exato! Você falou tudo! Influência é tudo! Quando eu comecei a escrever mais maduro e estava escrevendo coisas até mais introspectivas e até depressivas... É aquela coisa que até o Rodrigo me intitulou como o “guerreiro covarde”, aquele cara que está com a espada na mão, não sei o quê, mas tem pena de decepar a cabeça do inimigo. Sabendo que o cara é inimigo, né? Eu não encaro muito assim não, eu até estava refletindo sobre isso recentemente. Que, pô... não é muito isso! Faz parte das minhas influências. Quando eu ouço o Pink Floyd, e hoje eu tenho uma dimensão até maior de música, mesmo, quando eu ouço uma música eu quero saber o que o cara está falando. Eu ouço, por exemplo, Queens Of The Stone Age, ouço o poema “Go With the Flow” – eu até fiz uma versão dessa música –, eu... cara, que poema espetacular! Eu fico procurando os poemas. Se eu ouvir um negócio em aramaico e não sei o quê, e fico querendo saber o que o maluco está cantando, caramba! (risos) E vou lá ver e é um poema maravilhoso, sabe? Aí eu quero o quê? Aí eu quero fazer isso com o meu poema. Eu quero dar musicalidade de modo de que o cara quando me ouvir declamando, sei lá... porque essa é que é a parada! O cara vai me ouvir e vai falar: “Caraca, o que é que esse maluco está falando? Porque eu gostei da melodia!” Porque, também comunica. É aquela coisa da ressonância. Pô, quando tudo casa, porra, é perfeito! É o disco Ten, do Pear Jam! É o Sargent Peppers, um Revolver dos Beatles – Beatles tem várias ondas -, é um Pink Floyd, com o Dark Side [Dark Side Of The Moon]... É isso que eu estou buscando, com esse grau de excelência. Eu estou querendo esse grau de excelência para poder comunicar as pessoas tudo o que eu quero comunicar, em todos os aspectos. O cara chegar e... o ideal é ele nem entender o que está se passando. Ele pode nem entender, mas ele vai sentir alguma coisa. E nessa eu vou pegar ele.

De repente a pessoa vai entender até depois.

- Exatamente, é isso que eu quero! Quero que ele se debruce sobre o poema. Eu não quero dar um poema fácil. Essa é que é a parada. Aí, volta naquela coisa que eu gostava no início, a questão do resgate. Porque, a complexidade que eu achava boa depois foi destruída com Mário Quintana. Na verdade eu descobri que Mário Quintana é mais complexo do que eu imaginava. De uma forma sutil, uma forma lírica, bonita, assim. É você poder comunicar, criar tanto estranheza, que é uma coisa que eu gosto muito de fazer por causa daquela coisa do protesto mesmo, aquela herança Punk, que eu acho que é o punch do Rock mesmo, que é fazer as pessoas pararem para vibrar e para mudar. Mas não só isso, mas como também aquela coisa da tristeza introspectiva que rola, cara. Todo mundo com um sonho novo e diferente é derrotado em cada esquina, em cada vez que ele liga no Jornal Nacional. Porra! Me dá uma coisa... Porra, eu sei que é legal ir para a Praça Celestial enfrentar tanque, mas eu sei que o cara que enfrentou o tanque morreu, velho! É complicado! Você controlar as pessoas ao suicídio coletivo, contra o sistema. Então, eu estou fazendo como Drummond falava. Eu estou igual a um verme, eu estou comendo o sistema por dentro! Eu estou aqui e tal, beleza, trabalhando... mas eu não concordo e quero que as pessoas vão acordando, porque sozinho não dá! Isso aí, não tem como. Então o meu papel é meio assim que eu... é de não deixar a chama morrer dentro de mim, é a chama que eu tenho desde os 15 anos na época do mesmo cara que escrevia ficção científica. Então, porra, se eu não acho certo eu não vou assinar embaixo. Eu não quero criar muvuca e não vou criar ninguém pra fazer isso. E pô, ao mesmo tempo dá tristeza de saber que passou tanto tempo desde que eu tinha 15 anos, cada vez o tempo vai passando mais e as coisas vão ficando cada vez mais difíceis. As pessoas vão ficando mais alienadas! É bunda music! É poeta pasteurizado! É filósofo da moda! É livro de auto-ajuda alçado a Best seller! Sabe, é complicado!


Uma Noite na Taverna, fevereiro de 2006 (Jardim da FASG)

E falando um pouco de música, já que tocamos várias vezes no assunto, como veio a música na sua vida?

Então, música é o seguinte, música eu sempre ouvi! Inicialmente eu não tinha nada definido e achei sempre legal que os meus amigos trazem coisas, assim... Grandes amigos meus, me influenciaram porque... não porque eles gostavam da mesma coisa que eu ouvia, mas porque eles ouviam coisas diferentes do que eu ouvia. Não por aquela busca do novo, mas é porque eu queria realmente entender e sempre tive essa curiosidade de saber sobre coisas diferentes. Então, pô, o meu primo ouvia Pink Floyd, que eu comecei a ouvir e tal... depois de muito tempo comecei a ouvir Beatles e música brasileira. E com a música foi engraçado, porque eu comecei a fazer música porque eu não queria estragar a música de ninguém. Então eu falei assim: “Vou fazer! Como eu toco mal e não preciso dos outros eu vou tocar as minhas músicas!” Minha irmã tocava violão, era quase autodidata, tinha alguém que ensinava a ela, até em função de igreja, e tal, ela tocava na igreja. Ela tinha um violão em casa daqueles Tonante com corda de aço! Era cinza, lindo! Ele tinha um som estridente, então até hoje eu, pô, tenho esse defeito de tocar para os amigos... errr... se você me der um violão eu vou tirar dele o som mais alto que ele tiver! Vou espancar a corda! Isso aí eu tenho que perder até um pouco, dizem os meus colegas músicos de que eu vou ter que perder essa tara de espancar a corda do violão. Então, é herança do Tonante, do maldito Tonante que abriu as portas da música para mim. Então, pô... eu tocava Soundgarden, versão de Rage Against Machine e tal, daí eu falei assim: “Vou fazer minha música.” Até fiz uma versão, a primeira versão que eu fiz na minha vida foi uma versão de Death Metal, assim, pô, uma parada PÁ! Na verdade nem era tão Death Metal, era Heavy Metal mesmo, eu fiz uma versão de Orgasmatron. Aí botei minha... que é aquela coisa que eu falei que não tinha... sempre partiu de uma coisa que eu fazendo parecia meio plágio, então eu fazia uma versão minha e encaixava uma coisa que eu falava, então eu... “Espera aí, vou adequar o que eu estou falando ao que eu estou tocando.” E foram surgindo várias coisas. Eu tenho várias músicas que eu coloquei como a Playmobyll Killers que eu fiz desde a época que eu comecei a tocar, assim, era Heavy Metal “Tcharammmmmm!” Aquela barulheira e tal. O que aconteceu? Eu descobri mais um maluco que mudou a minha concepção de fazer as paradas, que foi o Caetano Veloso. Porra, sempre que eu tenho a chance eu falo: “Porra, compra o disco Livros!” É espetacular! Que é alguma coisa que ele fez... a música “Livros” é interessante... “Tropeçava pelos astros desastrados / Quase não tínhamos livros em casa / E a cidade não tinha livraria / Mas os livros que à nossa vida entraram / Eram como a redenção do corpo negro / Apontando para a expansão do universo...” Pô, porque a frase e o enredo e o verso, a prosa e o verso, sem dúvida e sobretudo o verso: “É o que pode criar mundos no mundo...” Pô, isso aí resume! Gosto do disco para caraca! É aquela coisa da ressonância que a gente volta a falar. É a minha tese fundamental, assim, é a ressonância. E o cara falou tudo o que eu queria falar num todo. E aí fechou! Eu falei: “Caraca, eu vou fazer isso também!” Eu tenho música de protesto, errr... porra, a famigerada “Edir Perverso” que mostra todo o meu ódio contra o pecado mortal da simonia que apela às coisas sagradas...

Você tocou no palco livre do Aldeia Rock Festiva IX, certo? (Evento acontecido na Semana Santa de 2009)

- Toda vez que eu tenho chance de tocar eu toco com o maior prazer do mundo!

É a sua vertente punk, né?

- Exatamente, eu tenho que dizer isso, esse cara é um filho-da-puta! (risos) Eu tenho que falar! Tenho que apontar o dedo, sabe? Tocar e coisa e tal. Eu tenho que apontar pelo menos o dedo pro tanque, assim! Mas é só para deixar claro que eu não estou ali para fazer coro com esse tipo de coisa.

E a música Boas Razões Para o Suicídio, você chegou a dizer que era uma poesia...

- Era uma poesia que eu musiquei. Ela nasceu como poesia. Como também aquela música, como foi também... tem algumas que foram feitas na mesma noite... eu fiz “Cine” e na mesma noite, que eu estava insone, eu fiz... errr... errr... rapaz esqueci o nome da música! Ah, depois a gente lembra!


Taverna, Centro Cultural Joaquim Lavoura (fevereiro de 2007)

O vinho já chegou pela metade! (risos)

- Não, eu sempre esqueço mesmo! Como eu ia falando, a música é até um exercício de eu ficar lembrando as coisas que eu escrevo. Tem músicas que eu escrevi que eu até nem gravei, que eu compus mais recentemente, por exemplo. Eu compus uma música que falava da minha vontade de fazer protesto: “Se o país é uma bagunça / Toma parte nessa dança / Roubam doce de criança / Vão tomar seu capital / Brasileiro dou meu jeito / E não olho pro Palácio / Se me querem de palhaço / Vão me ter no Carnaval / Cantando samba de protesto / Disfarçado de alegria / Pois não há democracia / No país do futebol...” E aí vai... É mais para expressar mesmo aquela coisa da revolta. Então a canção de protesto é o que norteia assim... o que eu fiz. Mas voltando ao Caetano Veloso, é a coisa da Bossa, mesmo. Então, eu fiz várias Bossas.

Isso suavizou mais a sua face Heavy Metal?

- Na verdade, não é nem isso. As coisas caminham juntas, mesmo. Na verdade a gente soma, não tem essa coisa. A gente tem um momento lírico e um momento mais pesado. E não tinha como fazer aquela coisa romântica no esquema Heavy Metal. Eu não conseguia fazer um “For The love Of God”, do Stevie Vai. Eu não conseguia fazer um Joe Satriani. Eu até busco isso, estou buscando isso. Mas eu não tinha nem esse equipamento, nem nada disso. Então a Bossa, a música brasileira, pô, estava isso rolando muito forte em mim, eu andava ouvindo – olha novamente a referência – Caetano, porra, eu fui até ao show do Caetano! Fui no Circo Voador, fui no show “O Estrangeiro”. Porra, genial! O que o cara faz, não tem preço! Tem também a Adriana Calcanhoto, gosto pra caramba! Comprei os discos dela direto, assim, gosto muito da poesia dela, até porque ela diz isso também... eu roubei essa frase dela que eu acho perfeita, que é “eu toco as minhas músicas para não estragar as músicas de ninguém”. É minha, se você não gostou, tudo bem, cara!

Eu tinha que falar... Agora, saindo um pouco da posição de entrevistador e ficando mais íntimo do entrevistado (risos), me lembrei daquela noite, o embrionário do Uma Noite na Taverna, que você chegou com um violão e uma garrafa de Balla [Ballantines] , você pegou um poema meu chamado “Antipoema” e musicou. Aquela noite foi foda!

- Aquele poema... a música já estava nele já, eu já tinha aquela música, o meu parceiro de violão se amarrou na música, pô, aquele poema é espetacular! Foi um excelente encontro aquele. É isso que eu acho maneiro... voltamos à ressonância! A gente estava ali preocupado se ia dar gente e tal [sobre a primeira taverna], mas na verdade a gente não estava preocupado. A gente queria fazer!


Aldeia Rock Festival VII, Aldeia Velha - RJ, abril de 2007.

Quando acabou o uísque veio o Rodrigo com aquela cachaça curtida em passas (risos)!

- Putz! Aquilo... aquilo é que eu acho que não prestou muito, eu fiquei meio desarranjado do estômago! (risos) Mas valeu à pena!

(risos) Mas isso é que é bacana, o lance da música, ela simplesmente flui.

- Na verdade, como eu falei, aquela música eu já tinha. Ela só estava precisando de um dono e foi um encontro perfeito. Eu já tinha aquela... aquele riff. E eu estou procurando muito isso, por exemplo, agora, eu tenho escrito... eu escrevi recentemente outra prosa. Mas é uma coisa até mais cômica. Eu gosto muito do Luis Fernando Veríssimo e tal, sei lá, veio o interesse de reescrever as estórias da Bíblia. Mas voltando ao ponto aqui, ao ponto da música, é que eu não abandonei nada da música, o que eu tenho composto - que até deixei no meu espaço da Trama, tem no meu Myspace – de eletrônico, eu procuro até uma coisa mais louca, tipo uma Rave. Eu fiz uma música que é de Rave, que é a “Time Machine”, pô... expressamente só tem duas frases na música que é “Welcome to the time machine / Enter to the time machine”. Tem até uma pausa que é um lance de propósito pro cara realmente sentir que tem um baque do tempo. Então, é aquela coisa: comunicar sempre! Pô, “Enter to the time machine” e o cara assim: “A máquina do tempo, a máquina do tempo... o que é essa máquina do tempo?” Aquela música frenética [faz com a boca som de batida de música techno] e de repente: “ENTER TO THE TIME MACHINE!... WELCOME...” Pô, bem vindo à máquina do tempo! Entre na máquina do tempo... E vamos embora! Você se destruindo lá de dançar!

Falando nisso, e o DJ Pakkatto?

- É, DJ Pakkatto! Teve até essa fase também! Recentemente a Nicole [produtora da festa JuiceBox em Niterói] até falou comigo. Aí, eu pô... tal... fiz meio um cu doce pra ela... (risos) e depois me ofereci. Aí, eu me ofereci de novo pra ela, não em sentido duplo, mas me ofereci para tocar de novo lá.

Discotecar é bom, né?

- Pô, discotecar é ótimo cara! Acho que a melhor coisa que tem é você comunicar. E você pode se valer... isso que eu tenho é um prazer de comunicar através até de outras pessoas. Então eu ouço por exemplo, “Go With the Flow” [da banda Queens Of Stone Age]: “She said I throw myself away…” “Ela disse que eu me joguei fora / Eram apenas fotos depois de tudo / Eu posso fazer você se segurar / Eu posso te lavar da minha pele...” Pô caraca! O que esses caras fazem, pô, eu tenho que botar isso, eu vou tocar e eu quero ver nego dançando isso! Eu nem sei se o pessoal vai entender, né? Tipo, um professor meu falou assim: “Cuidado rapaz, não jogue palavras ao vento porque, sei lá, o cara bota uma camiseta hoje em dia escrito Fuck me Forever e tá feliz pra caramba!” Mas pra mim, foda-se! Se o cara entender, pra mim está ótimo!


Centro Cultural Joaquim Lavoura, Taverna de outubro de 2007.

Às vezes as pessoas entendem sem entenderem, parece que é por osmose, não é?

É, alguém... cara, não é todo mundo. Eu não tenho essa coisa... Eu não tenho esse negócio de “oh, o messias!” Eu até já pensei nisso. No meu poema “Estrela da Manhã” eu falo isso. Você também tem poesias assim, porra! Eu falo isso em vários poemas, do poema... que até são dois poemas (eu tenho essa coisa da série, de um poema que joga no outro poemas e joga no outro poema... quando tiver bem organizadinho eu posso até fazer um livro), são dois poemas que são para sexta-feira, então assim... o meu primeiro poema fala da coisa de ver o mundo, aí eu estou caminhando na Av. Presidente Vargas, que tem um nome que é baseado num nome. E no outro poema eu já estou andando no meio do Largo da Carioca, vendo os caras que estão pregando e tal. E essa é uma coisa que eu acho legal. [PAUSA PARA COMER] (risos) O que acontece... (mais risos) Eu falo tanto que até perco o fio da meada! Essa ponte assim, da comunicação, quando você acha que você é o messias e sobe no banco da praça, a gente faz isso muito na Taverna. Sobe lá e não é fácil ler um poema assim. Eu até no início ficava meio bolado. “Como é que fulano não leu o poema direito?” Bom, é uma experiência legal pro cara também, entendeu? Porque, porra, na hora que ele vai ler, aí que ele vê que, porra, tem também esse canal que é de você declamar poesias. E se você parar pra pensar era isso que era feito! Aí, eu falei: “Porra, olha só, Shakespeare né, cara?” Para você vê como é, as pessoas evoluem. No início eu ficava meio bolado, até outro dia a gente discutiu isso... Assim, “vamos tentar falar com os caras para ensaiar e não sei o quê...” No início eu pensava seriamente isso. Agora, pô, sei lá, mas às vezes me volta sempre isso! Tem alguns que têm que ensaiar, que não tem jeito! Os caras não sabem falar no microfone. É complicado, você nem ouve o que o cara falou. Acho que o cara deveria até se policiar um pouco mais, né? Mas é por causa disso. O que eu escrevo é para ser lido, claro! Mas eu tenho a manha de chegar lá e PUM! Botar a mensagem, porque eu vou botar mensagem, não tem jeito! Tipo, eu sou multimídia. Porra, vamos musicar? Vamos musicar! Você quer fazer um vídeo? Vamos! Eu já penso nisso, entendeu? Eu já tenho essa parada. Agora, er... eu não posso cobrar que todo mundo tenha isso, também não posso cobrar que o cara, porra, às vezes o cara vai ler o poema dele, às vezes o cara vai cantar um samba – eu fui numa roda de samba recentemente -, e eu falei pro cara: “Porra, cara! É teu o samba? Pô, eu não cantaria assim não!” Então você já acentuou que o sentimento é uma coisa que você pontua, né? É complicado, é como... a gente está aqui gravando, é difícil, né? Você sabe mais do que ninguém que uma coisa é falar, outra coisa é escrever. Eu por exemplo posso ser muito coeso e sensato escrevendo, mas posso ser totalmente uma pessoa doidivanas falando. (risos) Eu posso até falar coisas que não têm o mínimo nexo. A não ser o que se passa muito da disposição do outro em escutar. E o poema é sempre assim, porque o poema é um diálogo. Tem poemas e poetas que eu porra, me faz... você é um dos caras que eu gosto pra caralho! Você tem escrito cada vez melhor!


Aldeia Rock Festival, abril de 2009.

Bah!

- Você eu admiro! E tem outros caras que eu admiro também, por exemplo, tem o Laurent [Gabriel] da nova geração, tem o pessoal dos Infames, do grupo do Xisto [da Cunha], fazem várias coisas diferentes. E o Rod Britto, sozinho nem tanto. Porque eu não li muito do Rod. Dos outros eu tive chance de ler o zine deles. Pô, eles esculacham! E o Guila [Sarmento]! O Guila, pô, é espetacular! O cara tem o domínio de apresentar a sua poesia, curta e intensa. Excelente! Outro exemplo é o Wellington [de Sousa]. Wellington às vezes eu fico bolado que ele apresenta assim, meio desleixado. Mas lendo ele, pô, eu gosto! Eu gosto muito da Tatiana [Ronconi]. A Tatiana tem vários momentos que porra, me surpreendem. E o próprio Tolissano, er...o Antonio Tolissano, mas eu gosto, assim... tem coisas que não dá para digerir! E lá dá muito isso, assim! Tem boas surpresas, tem coisas que até são fora da Taverna. O legal da Taverna, cinco anos, vai para seis anos - ninguém vai acreditar na gente – é que me despertou para muita gente nova.

Tem muita gente que hoje recita na Taverna e que quando a Taverna começou ainda era criança!

- É, verdade. Tem um pessoal que tinha catorze anos na época, imagina! Isso é uma coisa que pára num certo orgulho de estar junto com a galera, assim.

Estamos é envelhecendo!

- Pois é. Tem muita gente que fala o seguinte sobre a Taverna, que acabou indo para um caminho que não capitalizou. Eu mesmo falei com o Rodrigo: “Pô, Rodrigo! Tem que botar um lance profi, sei lá, pra fechar com o SESC e tal...” Mas eu acho, assim, tudo tem o seu tempo, né, cara? As pessoas vão se agregando ao movimento e não é à toa que vocês hoje colocam na Taverna muito mais gente que em qualquer outro evento de poesia gratuito no Rio de Janeiro. Eu não posso falar fora do estado do Rio de Janeiro, assim, mas fora da cidade, esse núcleo... Mas em São Gonçalo!

Existem eventos na Zona Sul do Rio que enchem.

- Então, existem eventos que eu sei, os eventos que têm lá na Letras & Expressões que eu estou doido para ir. Tem eventos eu sei, mas com um outro público. Um público diferente, é outra coisa, cara. Ali não, ali você encontra o cara que às vezes vai com o filho, vai velhinho e tal, e no final das contas, cara, o que o cara quer? O cara quer ficar falando para um monte de caras que escrevem também, “Ah, também escrevo!” Daí fica, porra, meio que competindo. Aquela competição de ego e coisa e tal... Ou você quer, pô, chegar para um maluco assim, do nada, como é num show de Rock ou de Heavy Metal, ou de qualquer outra coisa do mundo, ou porra, num vernisage de pintura, e o cara chegar: “Caraca, mermão! Adorei o que você fez!” E o cara que não tem nada a ver com aquilo. Pô, pra mim tem muito mais valor assim, porque ressoou fora daquele ambiente. Eu acho que essa é a parada diferenciada que a Taverna oferece em relação a qualquer outro evento que você tenha. Lá perto das Letras & Expressões, pô, eu já fui lá no Ubaldo, compus inclusive alguns poemas, tive um poema censurado né, que tem o singelo nome de Boceta. Que nunca me deixam declamar... [ele declamou nessa última Taverna]

O poema Boceta Linda?

- Isso, o Boceta Linda! O poema é maravilhoso, todo mundo quer que eu leia esse poema e só recitei na edição do No Uma Noite na Taverna sobre o Bocage. Era porque é a única homenagem que eu posso fazer... “Eu a vejo desnuda / Isenta de penugem / Tingida de vermelho / Vou vasculhar a fundo / Vou sorver o grito / Vou lamber o grelo...” (risos) Isso é maravilhoso! Isso é poético! Mas é aquela coisa... Noites de Ubaldo, né! Como é que é...”Findas noites / findos maços de cigarros e...” E aí eu falo um monte de palavrão, um monte de sacanagem. Eu ficava lá bebendo, enchendo os cornos no Ubaldo, mas o porquê eu ia no Ubaldo? No Ubaldo eu ia encontrar a galera que pô, o pessoal é... a galera vive disso, o cara vive de escrever... O Ubaldo é perto da Livraria Letras & Expressões, lá tem o Bar do Ubaldo... isso é uma coisa que me facilitou muito também, porque lá eu conheci muita gente. O CEP 20.000, por exemplo. Antes de ter Taverna já tinha o CEP 20.000...

Com Rodrigo Santos e Romulo Narducci na Bienal do Livro, no RioCentro (setembro de 2009).

Muito tempo antes, inclusive!

- É. E antes de ter o CEP 20.000, tinha a noite de poesia do... do... esqueci o nome... era lá na Gávea! Tinha um encontro com o Chacal, lá! Aí depois chegou o Zarvos e fizeram o CEP 20.000. Nessa época eu já curtia poesia e curtia também estar no meio dessa galera. Só que sempre foi isso, sempre foi clube de artista. E aquilo me deixava meio nervoso já! Quando começou a migrar para a Faixa, o CEP 20.000, aí é que foi o BOOM do negócio. Que quando, pô... depois começou a ter vários eventos na Lapa, eu já subi para declamar inclusive alguns poemas, o meu poema “O Lutador”... na Faixa, devidamente embriagado, é claro... Mas subi lá e encarei aquela galera inteira. Depois foi pro Sérgio Porto e agora ficou vazio! Começou por muito tempo cheio, depois foi esvaziando porque a galera ia beber na Lapa e ouvir pagodinho e bunda music. É isso que eu falo! Porque ali, a parada não era aquele... não tinha aquele palco aberto, que é bem tipo a Taverna, tipo... pô, eu vou chamar a galera e mostrar os poetas de São Gonçalo! Aquilo virou bem um clube, sempre eram as mesmas pessoas que estavam declamando. Aí, foram fazer palco livre que era maneiro, era uma coisa meio que... nego sacaneava, me lembro do Joe. Joe era uma figura que deve ter morrido, sei lá! Era um maluco clássico do Rio de Janeiro. O Joe ficava vagando pela Praia Vermelha e Lapa e tal e... doidão pra caramba! Ele era maneiro porque ele ficava... ele andava com o pessoal de psicologia e tal, recitava textos de Nietsche e não sei o quê, contextualizava tudo daquele jeito louco dele e teorizava durante duas horas sobre coisas sem sentido. Mas pô, quando o cara subia no palco, o cara dava uma bosta pro Joe! Falava assim: “Pô, cara! Você está descontextualizando o negócio!” Palco livre virou bagunça também! Não tinha um tema, não tinha nada! Era assim, um desfile de ego, né? Mas, pô, teve o seu valor também! Eu estou falando isso porque sei lá, ganhei uma certa... faz parte do passado e eu estou com essa visão hoje daquilo lá. Pode ser que amanhã eu olhe com olhos, né? “Pô, aquilo foi lindo, foi maravilhoso! Mas podia ter sido melhor aproveitado, tanto que poderia ter CEP 20.000 até hoje!

Mas tem!

- Tem?

O CEP 20.000 já fez 14 ou 15 anos de existência!

- É, mas...

E ainda acontece no Teatro Sérgio Porto!

- Eu estive até há pouco tempo lá no Sérgio Porto no show do Farofa... Tá, para me redimir eu acho que vou fazer então uma visita a eles, só para ver como está o negócio.

O Guilherme Zarvos acho que saiu, parou de fazer. Mas o Chacal continua.

- Que o Guilherme saiu, isso eu sei... pensei que tivesse parado. Eu gosto muito do Chacal!

Eu gosto dos dois...

- Ah, eu gosto é do Chacal!

Eu acho o Guilherme uma figura emblemática. Um pouco difícil de lidar, mas é emblemático, até.

- O Guilherme, ele quer ser pop star, ele é foda! Aí, eu fico meio bolado com isso. Quer aparecer a qualquer custo, é foda! Mas deve ser leonino igual a mim! (risos)


Recitando no Aldeia Rock Festival X (abril de 2010).

Tá explicado! (risos)

O leonino quer muito dizer o que o outro deve fazer e tal, mas... afinal de contas quer todo mundo aparecer, né? O cara sente que “o cara é mais leonino do que eu”, sei lá! Acho que pô, eu tenho até essa coisa, minha mulher é leonina, vários amigos meus são todos leoninos...

Pois é, e para a próxima Taverna [que aconteceu no dia 14 de agosto de 2009], o que você está preparando?

- Eu estou preparando alguns poemas novos mesmo, inéditos. Tem mais ou menos uns três poemas inéditos. Um deles até embarca no território do... de construção que eu vi você recentemente até usar, que a gente vê mais comumente no.. num dos grandes expoentes aí, um cara que eu já conhecia antes da Taverna, que é o meu amigo Laurent. E alguns poemas que foram escritos nessa fase mais recente, publicados no meu blog de forma... eu estou até organizando o blog por assuntos, né? Coloco lá o “Bilhete do Descontente”, que é uma coisa que eu até tenho de política, algumas coisas que eu escrevia. Algumas coisas que eu vi na mídia, mais alguns poemas que eu escrevi mesmo, que estão no blog, desse período todo, para pegar uma retomada desses anos de Taverna. Fora isso tem os três poemas inéditos aí, quentinhos do forno que estão esperando para serem burilados e descobertos. Porque, como Drummond falava, a gente até tinha trocado essa idéia, de colocar aquele poema descoberto pelo poema, né? Que está no “A Rosa do Povo”. O poema já está lá, pronto e a gente vai ter que se defrontar com ele, se defrontar com a pergunta crucial que ele faz com a gente que é “trouxeste a chave?” E abrir o poema e entrar nele e apresentá-lo. E falando de Taverna, eu sinto falta de várias pessoas que já passaram pela Taverna, eu sinto a maior saudade... Pô, o Guila, o pessoal dos Infames, que alguns hoje estão na Sala do Sino, um trabalho espetacular! A própria Tatiana, eu tenho saudades das risadas que a gente dava no próprio evento. Er... tudo que rolou nesse período e as pessoas foram se agregando e a gente já teve, não só nas poesias, mas nas apresentações mesmo de esquetes teatrais... tem acontecido uma grande sacada, uma galera que colou com agente e tal, recentemente a gente teve nessa apresentação à França, vejo que tem uma galera do teatro que está com agente e isso é, pô... isso me dá o maior prazer porque além de tudo, de saber que a Taverna não tem dono, foi feita para congrassar. Agente até estava trocando uma idéia antes, dessa coisa da Taverna estar sendo feita de um modelo diferente. Ela saiu daquela coisa do clube de amigos com o intuito de apresentar a poesia. Aí cria no início um certo tipo de estranheza, porque as pessoas vão despreparadas até para ler. Algumas é porque é a primeira vez que estão falando, mas é porque ali é um espaço onde as pessoas estão apresentando o seu trabalho e é muito mais gratificante, eu acho... como num show de Rock, ou como numa vernisage de pintura, é praticamente apresentar! É de chegar alguém e falar: “Cara, eu me identifiquei com você!” Porque você está no meio de uma roda de gente que está fazendo a mesma coisa, tipo uma roda de amigos que estão escrevendo, é legal? É legal! Mas o mais maneiro é alguém que não faz parte daquilo ali, chegar pra você e falar assim: “Pô, cara, você me tocou! Porra, gostei muito do que você falou!” Às vezes alguém achou uma porcaria, mas que as pessoas achem as coisas! É um público diferenciado. Porquê? Porque fazer poesia em São Gonçalo, sinceramente cara, isso não tem preço! Quando São Gonçalo virar uma megalópole, ou ela estiver flutuando... (risos) O cara vai falar assim: “É, todo mundo foi alfabetizado!” E o pessoal vai lembrar assim: “Caraca, eu vou pegar aqui um VHS da Taverna que aconteceu isso aqui...” Pô, eu acho legal a coisa do sentimento e o sentimento é não deixar morrer! Não deixar morrer o cara que está preso em casa, vivendo a sua vidinha cercado pela bunda music, que não consegue sintonizar uma música que ele goste no dial, não consegue ver o livro que ele gosta como um dos mais vendidos, er... se falam de Florbela Espanca, ele pensa que espancaram alguém, e o cara: “Quem espanca quem?” E lá ele vê, “Pô, você não está sozinho, tem gente que lê essa porra! Tem gente que compõe poemas inspirados nisso!” E aí vai ver, esse cara mora em São Gonçalo, e não é Cidinho Doca, porra! O cara mora em São Gonçalo e faz sonetos decassílabos clássicos! Fala de RPG e mora em São Gonçalo! Cara, tem gente em São Gonçalo que faz poesia! É a coisa que tira o cara do suicídio, adia o final cut, eu estava ouvindo até o “Final Cut” do Pink Floyd, que é um dos discos que eu mais gosto. Mas, cara, você poder ressoar, aí você sorri. E sorrir não tem jeito, até quando você está triste e faz um poema depressivo sobre suicídio e tal, e você escreveu e o cara sentiu a mesma coisa que você, caraca, teve a catarse! Você já pode adiar alguns dias aquela parada de fazer outro poema e voltar pra vida! Ter suas decepções, mas nunca deixar de voltar. É isso, aí!


No aniversário de 6 anos da Taverna, janeiro de 2010, SESC São Gonçalo.

E pro pessoal da Taverna, o que você deixa de recado, para quem vai lá no dia 14? [o evento aconteceu em 14/08/2009]

- Cara, assim, utilizar bastante esse espaço buscando o que não conhece, as referências que são citadas. Pô, a Taverna tem um projeto legal que desde o início é o de homenagear sempre um poeta. O objetivo ali não é de ficar declamando somente aquele poeta, nem nada. É de despertar as pessoas para aquele sentimento que aquele poeta passou. Isso é uma coisa importante, da referência, que vai te dar muito mais chão... Que nunca deixem de buscar, que nunca deixem de expressar, buscar seu sonho, ver que é possível, a Taverna é um resultado disso e é mais gostoso porque é coletivo, que a poesia é um exercício solitário mas que tem esse seu lado... Se você quiser guardar na gaveta, beleza! Mas a poesia tem o seu papel de liberdade, tem o seu papel de terapia, tem o seu papel de ferramenta revolucionária, de diversão, de música, ela está presente, porra, no texto literário mais complicado. Cita desde Newton a coisas de que você nunca ouviu falar, como também está na coisa direta do Bandeira de falar da tua dor de dente, da tua dor de barriga... A palavra está escondia em tudo quanto é lugar! Essa é que é a beleza dela. Ela não está ali à toa para você pegar e fazer o que quiser, ela te pede mais. Quando você conhece os mestres, conhece quem já fez, então busca até falar o que você vai falar para os outros. Você vê que a mensagem, ela é muito mais responsável. Tanto que você se sente responsável, você pega a dimensão das coisas e transforma essa coisa numa coisa maior. Uma coisa que fica cravada na pedra, né? Você não escreve mais com tuas palavras, você já deixa elas gravadas numa pedra que vai ficar sempre no coração de quem ouvir e vai ressoar de inúmeras formas. Pode ser que você esteja escrevendo ali para falar para duzentas mil pessoas, como pode ser que você esteja escrevendo num anel de ouro ou de diamante quando você estiver falando para um grupo de cem pessoas ali na Taverna. Isso vai depender do dia, da hora e tal, mas isso não interessa, o que interessa é o sonho de poder estar comunicando a sua mensagem para quem quiser ouvir.

Muito bom! Evoé, Pakkatto!

- Evoé!

Mais uma vez, obrigado cara! E que tudo isso que foi proferido seja guardado pela eternidade!

- Exatamente, vamos ver se a edição vai ser boa como os seus poemas. (risos)


Com o poeta e músico Rodrigo Vieira, em frente ao Bar Mr. Jack, em São Gonçalo.

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