sexta-feira, 27 de setembro de 2013

A Emergência Cultural dos Saraus de Periferia


Imigrantes jamaicanos, fugidos de uma grande crise, habitaram os guetos de Nova York nos anos 70. Escaparam da miséria em seu país para serem pobres em um país alien, e levaram consigo uma nova forma de entretenimento que rapidamente ganhou o gosto de outros jovens negros e pobres como eles: o rap, a interferência do mestre de cerimônias durante a música tocada nas festas. Como não tinham dinheiro para comprarem instrumentos musicais, os jovens começam a fazer de suas próprias vitrolas os seus instrumentos, arranhando os discos para produzir ruídos e sampleando trechos da americaníssima disco music. Assim surge o hip-hop, hoje uma expressão cultural riquíssima (em todos os sentidos) e de grande representatividade e identidade para milhares de pessoas.
A poesia, como a conhecemos, nasce com a música. A necessidade de levar as histórias para cidades mais distantes gera a rima que, acompanhada de instrumentos rudimentares, facilita sua lembrança por parte dos aedos. Com o passar do tempo, ela ganha a palavra escrita (privilégio de muitos poucos) e toma um caminho separado da música para ser domada pela nobreza e se hermetizar através de signos referenciais distantes do vulgo. No séc. XV, em Portugal, essa poesia palaciana é apresentada em saraus aristocráticos, contida em sua riqueza de redondilhas e temas fúteis da nobreza. Ao mesmo tempo, lá fora, os trovadores – que não sabiam escrever palavras difíceis – continuavam produzindo suas cantigas e divertindo os menos favorecidos, em feiras livres e tavernas, cantando versos de escárnio contra seus senhores e maldizendo mulheres dadivosas em gosto popular. Inferiores tecnicamente em comparação aos vilancetes e esparsas, eram muito mais férteis em sua expressão de mundo.
A Arte é uma das formas mais nobres (em essência, não em sociotipia) de expressão humana. Através de técnicas e estilos, o homem (e a mulher) comunica sua percepção de mundo, buscando se aproximar do outro por instâncias mais profundas que a aparência. A Arte é um produto humano que não enche barriga, não paga as contas nem cura doenças do corpo, porém indispensável à manutenção da sanidade mental e sentimental, religando mais que o mito (outra forma de representação artística).
A apropriação da Arte pela aristocracia é histórica, é a manutenção dos meios de controle exercido por uma minoria que estabelece para si um patamar mais alto – cultural ou econômico – e se arroga do direito de domínio sobre os demais. Esse processo faz com que a Arte seja revestida de complexidades estéticas e atrelada a ferramentas produtivas (principalmente intelectuais) próprias da elite, a fim de que se mantenha o monopólio da produção e do chamado “bom gosto”. O grande paradigma desse artifício é que essa maioria, sem acesso à esta artificial Arcádia, também necessita se expressar e apresentar sua visão de mundo – muitas vezes mais complexa em experiências e imagens.
Os desfavorecidos sempre deram um jeito de produzir Arte, à margem e ao largo do “bom gosto” palaciano. Dos trovadores da Idade Média aos MCs do Brooklyn, do artesanato de povos autóctones ao grafitti, a periferia tem a sua estética e sua expressão, independente do alheamento voluntário (quase sempre covarde, algumas vezes inocente) dos donos do mundo. Os artistas populares (periféricos, marginais, alternativos) alquimizam as migalhas a eles concedidas em ouro bruto, apropriam-se dos instrumentos da Arte Erudita a que têm acesso e criam, arranhando os discos do saldão, pintando com latas de tintas automotivas ou usando as palavras aprendidas na escola (como meio de instrumentalização de mão de obra). Criam, expressam, emocionam seus pares – também barrados na festa totêmica – falando de realidades paralelas à rua principal e ao sistema de benefícios autoconcedidos da aristocracia.
É nesse cenário que eclode hoje a resistência cultural, materializada em diversos saraus urbanos. Multiplexados, heterogêneos e esteticamente independentes, representam a emergência da necessidade ancestral de expressão dos povos de periferia - uma periferia social, não geográfica. Em São Gonçalo, em Manguinhos, na Cidade de Deus, na Rocinha, no Vidigal, artistas vêm realizando um trabalho de formiguinha para popularizar a Arte e dar acesso, representar e se ver representado através de meios que lhes foram historicamente negados, como a poesia e a fotografia. “Os saraus que agitam as regiões consideradas periféricas em cidades como Rio, São Paulo, Recife e Salvador questionam a distância que muitas vezes é estabelecida entre uma pouco provável 'Arte' com 'A' maiúsculo fruto de um processo criativo teoricamente mais sofisticado em relação ao que é produzido nessas áreas socioeconomicamente mais pobres. Não acredito em "Arte" com letra maiúscula como se fosse uma entidade metafísica e a inspiração literária fosse um dom. Literatura é suor. Exige leitura, diálogo com o mundo, disciplina e o exercício do hábito de escrever e reescrever”, diz Viviane de Sales, escritora e produtora cultural da Cidade de Deus, RJ, produtora do Poesia de Esquina, evento que congrega poetas de todas as idades, e populariza a poesia e traz à tona as produções artísticas da comunidade, de crianças a idosos. “Há um resgate da poesia falada, o que se refere aos primórdios do gênero, do hábito de ouvir o outro, de recitar poemas autorais e de outros poetas, da troca de afetividade que muitas vezes inspira a produção artística”, diz Viviane, que também escreve e esteve entre os vencedores do concurso literário FLUPP Pensa, realizado entre 100 escritores de comunidades pacificadas do Rio de Janeiro.
Mesmo o conceito de sarau, herdado de eventos culturais típicos da burguesia, destinados geralmente ao arrogante desfile de capacidades entre os pares, é apropriado pela periferia social e ressignificado. O encontro de diversas manifestações readaptadas e produzidas nos guetos com novas expressões se dá nos mais variados espaços, e em diferentes organizações. Alguns ainda se pautam pelo modelo clássico e, mesmo dando voz a pluralidades artísticas, acabam se limitando no conceito. Outros inovam no tempo e no espaço, e, não imbuídos de pretensão alguma que não a necessidade de expressão, representam igualmente a emergência da legitimação artística periférica ao status quo. “Quando a pessoa fala sarau, remete a um elefante branco, sem organização, com microfone livre pra qualquer bêbado e tia de karaokê”, comenta Romário Régis, um dos agitadores culturais de São Gonçalo. Com a experiência adquirida principalmente na observação e vivência do papel do jovem no novo espaço urbano e a instrumentalização adquirida na participação do programa “Parceiros do RJ-TV”, realizado pela maior emissora de TV do país (em alcance popular), Romário hoje coordena a Agência Papagoiaba, destinada a dar suporte e visibilidade para as potências sociais e culturais através da comunicação. “Quando eu conheci o conceito de Sarau, achei incrível pois me colocava num lugar novo, onde ninguém havia me levado. Depois de meses, percebi que o sarau era uma narrativa política de resistência, que deveria se manter, mas que deveria mudar o método de existir.  (...)a Roda Cultural de SG, no fino, é um Sarau, porém o conceito está tão atravessados na garganta de todo mundo, que nego muda o nome”, completa. A Roda Cultural de São Gonçalo é um movimento de resistência pautado na expressão hip-hop, e acontece sem apoio comercial ou público nenhum a cada quarta-feira, em uma praça da cidade, reunindo mais de 200 pessoas.
Como se não bastasse, a mesma elite que tem se arroga detentora do “bom gosto” domina os meios de comunicação, e a Mídia ainda não sabe lidar com a inconveniência dos morlocks estarem produzindo Arte (Os Eloi pira), e não consegue (nem quer) enquadrar essas manifestações. Quando voltam seu olhar para a cultura de periferia, jornais e TVs insistem em utilizar a mesma fórmula puída de usar a situação social como refém, o olhar alencarino de achar o Brasil “exótico”. É a velha tática do desmerecer a Arte produzida fora do eixo Zona Sul, mostrando como “bonitinho” o “coitadinho” que tenta se enquadrar nas fórmulas por eles ditadas, tratando como singularidade o que é complexo, como mimetismo o que é original. Esse grupo, inclusive, quando se propõe a “ajudar” segue sempre os mesmo caminhos absurdos da subestimação: “apresenta” seus parâmetros de forma diluída - para tentar domesticar o gosto da plebe ou incentiva apenas as manifestações típicas já consideradas “menores”. Um bom exemplo disso é a fomentação das oficinas de “batuque” variadas oferecidas nas escolas públicas, direcionando o posicionamento desejado aos pobres.
“A mídia nem é tão representante assim de uma erudição, não há tantos eruditos assim. Mas a imprensa tem sim dificuldades de cobrir tudo o que foge de sua pauta tradicional, isso tem a ver com a própria original social do jornalista e com a lógica de cada publicação, diz Fernando Molica, escritor e jornalista de um dos jornais de maior circulação do Rio de Janeiro. “Numa sociedade tão excludente como a nossa, o trabalho nas periferias se torna ainda mais relevante. Afinal, livros acabaram sendo entronizados como representantes de uma cultura de elite, consumida e reproduzida entre poucos”, completa.
Viviane de Sales vai um pouco mais além em sua análise: “As narrativas sobre a produção de arte nas periferias estão cada vez mais em disputa e precisam ser cada vez objetos de interesse por parte dos atores locais dessas cenas literárias. Cobrir jornalisticamente o outro como 'pleno' e não como 'carente em ascensão' tem sido um exercício difícil por boa parte da mídia. Há sempre um tapinha nas costas 'isso aí, meu filho' por trás de uma matéria num jornal. A periferia sempre produziu poesia. É preciso disputar os discursos que constroem o imaginário das pessoas em relação à dita periferia”.
Fora da mídia, a periferia continua produzindo Arte, como sempre o fez, à margem de validações e desprezando valorações hipócritas, baseadas em cifras e marcas, como bem exemplifica o poeta Romulo Narducci: “A ARTE(...) verdadeira já é por si mesma, pelo seu élan contestador e importunador do meio social, uma excluída. Os excluídos são apenas vozes dessa arte, que incomoda, que contesta, que se faz descontente com o meio social que vivemos. A exclusão hoje se faz de maneira clara e bairrista, principalmente a vista de Rio de Janeiro, Niterói, São Gonçalo... há um muro mesmo dentro da própria cidade do Rio, pois temos os eventos da zona Sul (muito bacaninhas, mamãozinho com açúcar, todo mundo é artista de facebook, Rio-Rio-Rio-nós-te-amamos-Rio-temos-nossa-farinha-láctea-no-final-do-dia-e-bananinha-com-geleia-preparada-pela-dona-clotilde-diarista-sem-carteira-assinada) e por outro lado os eventos da periferia (PERIFERIA SIM, sem preconceito mas dado o conceito formado e hipócrita dos demais que não vivem aquela realidade). O filho da Dona Clotilde, que não tem a farinha láctea e a bananinha com geleia, etá lá, recitando a verdade no Poesia da Esquina, na Cidade de Deus, atravessando a ponte sem medo de índio para a Taverna, em São Gonçalo, e para a Roda Cultural do Engenho do Mato, em Niterói. A arte, excluída hoje dos meios de massificação é o corpo. A voz dos excluídos são a sua voz”.
Juntamente com Rodrigo Santos, Romulo Narducci cerra ombros há dez anos na vanguarda da batalha com o evento “Uma Noite na Taverna”, destinado a popularizar a poesia em uma cidade tão improvável quanto São Gonçalo, RJ. “O Uma Noite na Taverna é um evento que vem sendo realizado a muito custo, numa cidade considerada dormitório, em muitos aspectos culturais, apesar da sua riqueza em diversos ramos da arte. (...) creio que a sua longevidade, mesmo sem o apoio de empresários locais e do governo, faz com que o evento ganhe mais respeito por isso, pois este só acontece e vem persistindo pela resposta do público que comparece em peso em cada edição. Esse vem sendo o aspecto primordial de sua existência e sua fortaleza. A importância do evento se faz na necessidade de mostrar a arte, pura e simplesmente. E como disse, o público carente de contemplar algo que não tem acesso, ou quando tem, esbarra na impossibilidade financeira de peças e espetáculos caríssimos (e o interessante é que muitas vezes esses espetáculos são apoiados pelo governo). A Taverna é diversão gratuita ao público, divulgação da arte da poesia a fim de popularizá-la e um espaço aberto para artistas mostrarem seus trabalhos sem qualquer tipo de pré-analise de seus trabalhos ou censura."
A hora é agora, e os eventos artísticos que pululam na cidade revalidam a função primordial da Arte, que é mitigar o sofrimento da alma humana perante os desmandos da vida. Quem mais senão os excluídos da imposta ordem precisa mais dela? E o melhor: a Arte não enche barriga, não veste, não completa o tanque do carro, mas não há ninguém – independente de seu papel social – que não viva sem ela. Portanto...

EVOÉ, periferia!

   Rodrigo Santos é poeta, pai do Miguel, marido de Maria Isabel, Flamenguista, Professor e Corredor de Rua.
Estamos de volta! Após 6 meses de silêncio no Manifesto Tavernista, voltamos com nossa programação normal. E a Taverna segue em frente, sedutora e determinada a cada edição, arrebatando cada vez mais público, amante das artes e principalmente da poesia. Evoé!
Arte: Eduardo H. Martins

terça-feira, 9 de abril de 2013

Uma Noite na Taverna com a poesia de Charles Bukowski

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Linda e Charles Bukowski, em foto exposta em 2011 na Huntington Library.
Não é a primeira vez que esse velho safado dá as caras no Uma Noite na Taverna. A primeira vez que os poetas tavernistas homenagearam o escritor e poeta Charles Bukowski foi em uma edição do evento em 2008.

De volta ao Uma Noite na Taverna, a poesia de Bukowski promete sacudir os alicerces do SESC São Gonçalo no dia 12/04, a partir das 19 horas, na interpretação dos poetas Rodrigo Santos, Romulo Narducci e Henrique Pakkatto. O evento terá, ainda, a participação do poeta veterano Nereis Ribeiro - que vem lutando há muito tempo pela divulgação da arte poética em São Gonçalo -, da excelente poeta Wanda Monteiro - que recitará pela primeira vez na Taverna - e do, também estreante, poeta Tito Dasil. A música ficará com o Rock and Roll de Márcio de Castro e Banda, que sempre bota pra... ferver! 


 BIOGRAFIA*

Henry Charles Bukowski Jr (nascido Heinrich Karl Bukowski; Andernach, 16 de agosto de 1920 – Los Angeles, 9 de março de 1994).

Nascido na Alemanha, filho de um soldado americano, mudou-se ainda criança para os EUA com seus pais. Foram primeiro para Baltimore em 1923, mas depois disso se mudaram para o subúrbio de Los Angeles. Foi uma criança atormentada por um pai extremamente autoritário e frustrado, que descontava os seus problemas o espancando pelos motivos mais fúteis. Quando atingiu a adolescência, somou-se a este problema o fato de ter o rosto e toda a parte superior do corpo literalmente tomada por inflamações que o obrigaram a submeter-se a tratamentos médicos no hospital público de sua cidade. Na escola, a situação também não é das melhores, teve sempre poucos amigos.

A falta de carinho familiar e a humilhação de ter um rosto deformado obrigam-no a fugir. Abandonou a escola para só voltar um ano depois. Neste meio tempo descobriu duas coisas que o ajudaram a tornar a sua vida suportável: o álcool e os livros. Teve problemas com alcoolismo e trabalhou em empregos temporários em várias cidades americanas, como carteiro, frentista e motorista de caminhão apesar de ter estudado jornalismo sem nunca se formar. 

Bukowski começou a escrever poesias aos 15 anos mas seu primeiro livro somente foi publicado 20 anos depois em 1955. Em 1962 estreou na prosa caracterizada pela descrição de sua vida pessoal. Escreveu, entre outros livros, "Mulheres", "Hollywood" e "Cartas na Rua".


Iniciou assim uma vida errante, bebendo em excesso e escrevendo alucinadamente. Os produtos destas noites e mais noites de trabalho eram enviados para as mais diversas publicações literárias independentes dos Estados Unidos, mas quase sempre recusados. A editora da revista Harlequin, Barbara Frye, no entanto, estava convencida de que Bukowski era um gênio. Começaram a se corresponder e, em determinado momento, Frye declarou que nenhum homem nunca se casaria com ela. Bukowski respondeu simplesmente: "Eu me casarei". Casaram-se logo depois de se conhecerem pessoalmente. Mas tão rápido quanto se conheceram, separaram-se.

Até este momento, Charles Bukowski era apenas um poeta iniciante - apesar de ter quase quarenta anos. Mas foi a partir de sua separação que começou a surgir a imagem de Bukowski que o tornaria famoso, seu alterego Henry Chinaski. Jim Christy, autor do livro The Buk Book, disse em uma vez que "ele havia sido um vagabundo, um imprestável, um proletário, um bêbado; bem, que fosse. Claro, outros trabalharam o mesmo território, mas o que diferenciava Bukowski do resto deles - os Knut Hamsun, Jack London, Maxim Gorky e Jim Tully - era que Bukowski era engraçado." Trabalhando esta imagem, Bukowski conseguiu criar um mito ao seu redor.


Teve Ernest Hemingway e Fiódor Dostoiévski como principais influências. Com o escritor russo, aprendeu: "Quem não quer matar seu pai"?. O complexo de Édipo rodeia Chinaski por toda a obra: "Ele" é o cara sacana, "Ele" é o responsável por seu sofrimento, "Ele" merece morrer. Esse ódio por seu pai (na realidade um alcoólatra violento) permeia toda a obra do velho "Buk". Essa capacidade de transformar o dia-a-dia em poesia, de pegar as bebedeiras triviais, as angústias adolescentes e transformá-las em arte é a mágica de Bukowski.

Repulsa, nojo, ódio, amor, paixão e melancolia. Esses são alguns dos sentimentos que mais inspiraram Charles Bukowski, que passou a vida nos becos dos Estados Unidos, na composição de toda sua obra. Cada poesia, cada romance e cada conto do escritor traz um pouco da vida do "Velho Safado", como ficou conhecido no mundo inteiro. E Howard Sounes é prova disso. O jornalista inglês assina "Charles Bukowski - Vida e loucuras de um Velho Safado" (Ed. Conrad); biografia considerada uma das mais completas e sérias do gênero.


Funcionário dos Correios até os 49 anos, Bukowski sonhou a vida inteira em ser reconhecido pelo seu trabalho como escritor. Dono de um talento nato, o poeta usava a simplicidade e a singularidade dos fatos mais rotineiros e transformava o cotidiano em obra de arte. Inconformado e, sempre, com uma garrafa na mão, ele sentava em sua antiga máquina de escrever e, com uma sutileza surpreendente, deixava fluir seus pensamentos sem censura alguma. Bukowski vivia em um mundo atormentado e distorcido, totalmente fora dos padrões impostos pela sociedade de sua época. 
O escritor nunca fez questão de esconder que seus trabalhos eram, quase sempre, autobiográficos. E sua falta de discrição era tão grande, que durante toda vida teve de lidar com a quebra de laços de amizade. Ele citava, sem qualquer preocupação, nomes e, quando muito inspirado, fazia duras críticas às pessoas que o cercavam. Algumas vezes os personagens "nada fictícios" ficavam sabendo das peripécias do poeta bêbado após a publicação dos textos.


Sua obra surtiu tanto efeito que alguns de seus contos e romances acabaram sendo adaptados para o cinema por alguns diretores. Inclusive, o próprio Bukowski recebeu diversos convites para escrever argumentos, apesar de assumir que nunca gostou muito de filmes. 
Bukowski tem sido erroneamente identificado com a Geração Beat, por certos temas e estilo correlatos, mas sua vida e obra nunca mostraram essa inclinação. A cidade de Los Angeles, suas ruas e atmosfera, foram sua principal influência, tratando de histórias com temas simples, misturando por exemplo corridas de cavalo, prostitutas e música clássica. Ele escreveu mais de 50 livros, sem contar milhares de publicações baratas.

Uma de suas principais atividades durante anos foi a leitura de suas poesias em universidades e eventos culturais. Sua leitura debochada às vezes provocava escândalos e brigas com a plateia, algumas delas registradas em áudio. Já nos anos 1980, Bukowski desfrutou de certa fama, convivendo com artistas e tornando-se uma celebridade. Ele morreu de leucemia aos 73 anos, em 9 de Março de 1994, e em seu túmulo se lê "Don't Try", "Não Tente" em português.

Com o tempo, apareceram alguns herdeiros seus na literatura, principalmente na questão do estilo violento e despudorado de sua linguagem, e que acabou inclusive tendo desdobramentos no cinema. Mas poucos são aqueles que como ele, vivenciaram e permaneceram com naturalidade na sarjeta, fazendo dela, sua fonte de inspiração. De todo aquele inferno imundo e fedido, Bukowski fez o seu paraíso.


LIVROS PUBLICADOS NO BRASIL

Romances

· Cartas na Rua. São Paulo: L&PM Editores, 2011 (edição original 1971)
· Factotum. São Paulo: L&PM Editores, 2007 (ed. original 1975)
· Mulheres. São Paulo: L&PM Editores, 2011 (ed. original 1978)
· Misto quente. São Paulo: L&PM Editores, 2005 (ed. original 1982)
· Hollywood. Porto Alegre: L&PM Editores, 1990. (ed. original 1989)
· Pulp. Porto Alegre: L&PM Editores, 1995. (ed. original 1995)

Contos, poesia, não-ficção

· Ao Sul de Lugar Nenhum - Histórias da Vida Subterrânea. Porto Alegre: L&PM Editores, 2008.
· O Amor é um Cão dos Diabos. Porto Alegre: L&PM Editores, 2007.
· Vida desalmada. Florianópolis: Spectro, 2006.
· Essa loucura roubada que não desejo a ninguém a não ser a mim mesmo amém. Curitiba: 7 Letras, 2005.
· Tempo de vôo para lugar algum. Florianópolis: Spectro, 2004.
· Hino da Tormenta. Florianópolis: Spectro, 2003.
· Os 25 Melhores Poemas de Charles Bukowski. Rio de Janeiro: Bertrand, 2003.
· O capitão saiu para o almoço e os marinheiros tomaram conta do navio. Porto Alegre: L&PM Editores,  1999.
· A mulher mais linda da cidade. Porto Alegre: L&PM Editores, 1997. (coletânea)
· Numa Fria. Porto Alegre: L&PM Editores, 1993.
· N.York, 95 cents ao dia. Porto Alegre: L&PM Editores, 1991 (quadrinhos).
· Delírios Cotidianos. Porto Alegre: L&PM Editores, 1991 (quadrinhos).
· Fabulário Geral do Delírio Cotidiano. Porto Alegre: L&PM Editores, 1986.
· Notas de um velho safado. Porto Alegre: L&PM Editores, 1985.
· Crônica de um amor louco. Porto Alegre: L&PM Editores, 1984
· Bukowski - Textos Autobiográficos. Porto Alegre: L&PM Editores, 2009
· Pedaços de um caderno manchado de vinho. Porto Alegre: L&PM Editores, 2010

Revista em quadrinhos

· Delírios Cotidianos. Porto Alegre: L&PM Editores, 2008

Filmes baseados em obras

· Barfly
· Factotum


SIMBORA PRA TAVERNA!


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Intervenção Tavernista no Aldeia Rock Festival XII



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Fotos: Wallace Alves

Aldeia Velha é um paraíso! Isso não é dúvida alguma. E o Aldeia Rock Festival é pura energia, o que também para os muito presentes na última edição do festival não deixou quaisquer dúvidas. 

A ponte que dá acesso à Fazenda Surucucu.
A 12ª Edição do Festival, que ficou sem acontecer no ano passado, foi promovida na Fazenda Surucucu (palco das 1ª e 2ª Edições, em 2001 e 2002, respectivamente) com shows que foram realizados desde quinta-feira à noite, 28/03, passando por sets a tarde e à noite de sexta e sábado, nem o aceno da chuva em alguns momentos desanimou o público presente. 




Tradição do festival: Rock e natureza em plena comunhão.
A intervenção dos poetas Tavernistas se deu na tarde e na noite de sábado, 30/03, com os poetas Romulo Narducci, Pakkatto, Luana Vasconcellos e Bruna Jardim. Já não é novidade o flerte do Aldeia Rock Festival com a poesia tavernista, já que nas primeiras edições, em 2003, antes mesmo do surgimento do evento, o poeta Romulo Narducci se apresentou no festival nos intervalos de algumas bandas. Fora as várias outras edições, nas quais os tavernistas se fizeram presentes com suas poesias. 

Porém, dessa vez o recital, promovido pelos poetas do Uma Noite na Taverna, foi sem dúvidas para ficar na história do movimento. 

Na tarde de sábado os poetas Romulo Narducci e Henrique Pakkatto fizeram uma prévia da intervenção poética. Houve também a distribuição de livros da Editora Navilouca, do também poeta Rodrigo Raro, durante as apresentações.


O poeta Romulo Narducci recitando na tarde de sábado.
À noite, a chuva veio, deu tréguas, voltou e definitivamente se despediu. Os poetas Romulo Narducci, Luana Vasconcellos e Bruna Jardim, com ou sem chuva subiram ao palco e fizeram a intervenção poética no intervalo das primeiras bandas. O público simplesmente compartilhou e vibrou com a poesia com a mesma energia do Rock and Roll tocado pelas bandas que subiam aos palcos e cediam os intervalos para os poetas.

Romulo Narducci recitando, ao fundo Luana Vasconcellos e Bruna Jardim prontas para darem o seu recado.

O público se diverte: é festa!
Romulo Narducci: "A vida dói..."
Bruna Jardim encanta o público com sua poesia.



A poeta Luana Vasconcellos em sua viagem poética, muito aplaudida.


E teve poeta que saiu do público e foi compartilhar do momento com os tavernistas

Encerrando a intervenção tavernista, o poeta Romulo Narducci recitou um de seus poemas autorais e etílicos com o acompanhamento musical do gaitista Jefferson Gonçalves. Foi um momento em que o público vibrou bastante. 

Romulo Narducci e Jefferson Gonçalves: poesia e gaita cortando a noite do Aldeia Rock Festival
No resto da noite o som correu solto, com muita energia positiva e felicidade do público presente.


Foi um evento que deixou saudades e que com certeza, voltou à agenda de Aldeia Velha.

Fotos: Wallace Alves (contatos: 21 7803-5344 / 21 8289-5401 / wallacecmalves@gmail.com)
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segunda-feira, 8 de abril de 2013

AGUARDE: INTERVENÇÃO POÉTICA TAVERNISTA NO ALDEIA ROCK FESTIVAL E UMA NOITE NA TAVERNA COM A POESIA DE CHARLES BUKOWSKI!

Lançamento do Livro "O Perfume da Palavra Vol IV" na Biblioteca Estadual de Niterói

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No dia 27 de março, a partir das 17 horas, na Biblioteca Estadual de Niterói, foi lançado o 4° Volume da coletânea "O Perfume da Palavra", da Editora Muiraquitã, onde o poeta tavernista Rodrigo Santos participou com três textos de sua obra poética.

O evento começou com uma solenidade e a apresentação do projeto pela editora Labouré Lima, e após teve uma prévia dos autores que se apresentaram falando sobre os seus textos e suas influências, alguns recitaram suas poesias autorais.

Labouré Lima dá início à solenidade (Foto: Raquel Lima)

O poeta tavernista foi convidado para iniciar o recital.

O livro conta com textos de 18 autores e 5 jovens autores. Para encomendar o livro, envie um e-mail para Editora Muiraquitã no endereço virtual editora.muiraquita@gmail.com, ou entre em contato pelos telefones (21): 2620-6357 / 2620-2788 / 8724-0618. 




Autores: Ananita Rebouças | Antônio Paulo | Anny Mary | Claudia Viana | Danilo Pelloso | Edna Zambão | Gentil Moreira | Jacqueline Gotzen | José Eduardo Giorgetta | Lieda Sobrosa | Marcelo Duarte | Maria Goreti | Maria José Pedrosa | Mariza Magalhães | Roberta de Souza | Rodrigo Santos | Sandra Lima | Sonia Salim
Jovens Autores: Bruna Nicolau | Luani Mendes | Marina Nunes | Pedro Caldas | Pedro Vieira

Dados Técnicos: Antologia O Perfume da Palavra Vol IV

Organizadores: Roberta de Souza e Labouré Lima

Rodrigo Santos, Labouré Lima, e seu parceiro de longa data, Romulo Narducci, que foi prestigiá-lo no lançamento.
O poeta Rodrigo Santos, há dez anos atrás lançou pela editora o seu primeiro livro de poesia "Máscaras sobre Rostos Descarnados". 

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2° Coletivo da Poesia - Dia Nacional da Poesia

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O Uma noite na Taverna em parceria com a Secretaria de Turismo e Cultura de São Gonçalo, realizou no dia 14 de março (Dia Nacional da Poesia), a partir das 10 horas da manhã, o 2° Coletivo da Poesia

Os poetas Rodrigo Santos e Romulo Narducci junto de outros poetas tavernistas e artistas da cidade saíram por São Gonçalo em vários ônibus em trajetos diversos para levar a poesia para mais de 350 passageiros que foram agraciados com a ação poética.

No time da poesia que tomou de assalto a cidade com textos autorais e de Vinícius de Morais, Augusto dos Anjos, Paulo Leminski, entre outros, estavam os poetas Rodrigo Santos, Luana Vasconcellos, Antonio Encarnação, Romulo Narducci, Maycon Arcanjo, Diego Guimarães, Edson Amaro, André Correia e Doia Hollanda (conforme foto abaixo). A tarde, juntou-se ao grupo a poeta e jornalista Carol Magalhães.    

Poetas e artistas da cidade na Casa de Cultura Villa Real, no Centro de São Gonçalo.
Na Praça de Nova Cidade, prontos para abordar mais um ônibus ma missão de popularizar a poesia.
A reação do público não foi muitas vezes imediata, no início algumas pessoas ficavam carrancudas ao verem 8 poetas uniformizados entrarem no coletivo e começarem a recitar poesia, falar de Uma Noite na Taverna, dos promissores artistas da cidade, de literatura, etc. Mas passados alguns minutos, todos já aplaudiam os poetas e se entregavam aos versos que eram recitados. Depois, alguns passageiros chegavam a falar para o grupo que aquela era uma iniciativa que poderia acontecer sempre. 

O poeta Rodrigo Santos em ação.
O time de poetas que encantou os passageiros de várias linhas da cidade no Dia Nacional da Poesia.
É o segundo ano do projeto, idealizado pelo poeta tavernista Rodrigo Santos, em parceria com André Correia (gestor de cultura e artista da cidade). No ano de 2012 o Coletivo da Poesia foi realizado em Alcântara (pela manhã) e Centro de São Gonçalo (à tarde). A ideia inicial era que fosse realmente nos ônibus, mas naquele ano o grupo não teve tempo de conseguir o apoio necessário para que a ação ocorresse como o desejado.

Nesse ano de 2013, tudo correu como o desejado e os poetas fizeram valer o projeto original. 

Diego Guimarães mostrou com o Hip Hop toda a criatividade de suas rimas e improvisos.

Maycon Arcanjo soltou a língua em prol da poesia.
Dóia Holanda não fez diferente, performático, recitou sua poesia autoral.
A jornalista e poeta Carol Magalhães juntou-se ao grupo na 2ª etapa e também mandou o seu recado.

Foram 4 coletivos de manhã e 4 à tarde, com pausa somente para o almoço no restaurante Sintonia Fina, que apoiou o grupo com uma formidável refeição. O resultado final foi surpreendente, passageiros, motoristas e cobradores manifestaram um apoio incrível aos poetas. Num momento, um simples transporte coletivo, se transformava em palco da literatura, e passageiros em expectadores.

"A experiência de estar em contato direto com o público, ainda mais num ambiente comum da rotina do dia a dia, é sensacional. É o que costumamos pregar no Uma Noite na Taverna: a arte não é para iniciados, doutores ou intelectuais, é para todos, é para o público em geral", afirma o poeta Rodrigo Santos.


Missão cumprida, agora é esperar 2013! Evoé!

Fotos: divulgação.
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