Linda e Charles Bukowski, em foto exposta em 2011 na Huntington Library. |
Não é a primeira vez que esse velho safado dá as caras no Uma Noite na Taverna. A primeira vez que os poetas tavernistas homenagearam o escritor e poeta Charles Bukowski foi em uma edição do evento em 2008.
De volta ao Uma Noite na Taverna, a poesia de Bukowski promete sacudir os alicerces do SESC São Gonçalo no dia 12/04, a partir das 19 horas, na interpretação dos poetas Rodrigo Santos, Romulo Narducci e Henrique Pakkatto. O evento terá, ainda, a participação do poeta veterano Nereis Ribeiro - que vem lutando há muito tempo pela divulgação da arte poética em São Gonçalo -, da excelente poeta Wanda Monteiro - que recitará pela primeira vez na Taverna - e do, também estreante, poeta Tito Dasil. A música ficará com o Rock and Roll de Márcio de Castro e Banda, que sempre bota pra... ferver!
BIOGRAFIA*
Henry
Charles Bukowski Jr (nascido Heinrich Karl Bukowski; Andernach, 16 de agosto de 1920 – Los Angeles, 9 de março de 1994).
Nascido
na Alemanha, filho de um
soldado americano, mudou-se ainda criança para os EUA com seus pais. Foram primeiro para Baltimore em 1923,
mas depois disso se mudaram para o subúrbio de Los Angeles. Foi uma criança
atormentada por um pai extremamente autoritário e frustrado, que descontava os
seus problemas o espancando pelos motivos mais fúteis. Quando atingiu a
adolescência, somou-se a este problema o fato de ter o rosto e toda a parte
superior do corpo literalmente tomada por inflamações que o obrigaram a
submeter-se a tratamentos médicos no hospital público de sua cidade. Na escola,
a situação também não é das melhores, teve sempre poucos amigos.
A
falta de carinho familiar e a humilhação de ter um rosto deformado obrigam-no a
fugir. Abandonou a escola para só voltar um ano depois. Neste meio tempo
descobriu duas coisas que o ajudaram a tornar a sua vida suportável: o álcool e
os livros. Teve problemas com alcoolismo e trabalhou em empregos temporários em várias cidades
americanas, como carteiro, frentista e motorista de caminhão apesar de ter
estudado jornalismo sem nunca se formar.
Bukowski começou a escrever
poesias aos 15 anos mas seu primeiro livro somente foi publicado 20 anos depois
em 1955. Em 1962 estreou
na prosa caracterizada pela descrição de sua vida pessoal. Escreveu, entre
outros livros, "Mulheres", "Hollywood" e "Cartas na
Rua".
Iniciou assim uma vida errante, bebendo em excesso e escrevendo
alucinadamente. Os produtos destas noites e mais noites de trabalho eram
enviados para as mais diversas publicações literárias independentes dos Estados
Unidos, mas quase sempre recusados. A editora da revista Harlequin, Barbara Frye, no entanto, estava convencida de que Bukowski era um gênio.
Começaram a se corresponder e, em determinado momento, Frye declarou que nenhum
homem nunca se casaria com ela. Bukowski respondeu simplesmente: "Eu me
casarei". Casaram-se logo depois de se conhecerem pessoalmente. Mas tão
rápido quanto se conheceram, separaram-se.
Até
este momento, Charles Bukowski era apenas um poeta iniciante - apesar de ter
quase quarenta anos. Mas foi a partir de sua separação que começou a surgir a
imagem de Bukowski que o tornaria famoso, seu alterego Henry Chinaski. Jim Christy, autor do livro The Buk Book, disse em uma
vez que "ele havia sido um vagabundo, um imprestável, um proletário, um
bêbado; bem, que fosse. Claro, outros trabalharam o mesmo território, mas o que
diferenciava Bukowski do resto deles - os Knut Hamsun, Jack London, Maxim Gorky e Jim Tully - era que Bukowski era
engraçado." Trabalhando esta imagem, Bukowski conseguiu criar um mito ao
seu redor.
Teve Ernest Hemingway e Fiódor Dostoiévski como principais influências. Com o
escritor russo, aprendeu: "Quem não quer matar seu pai"?. O complexo
de Édipo rodeia Chinaski por toda a obra: "Ele" é o cara sacana,
"Ele" é o responsável por seu sofrimento, "Ele" merece
morrer. Esse ódio por seu pai (na realidade um alcoólatra violento) permeia toda
a obra do velho "Buk". Essa capacidade de transformar o dia-a-dia em
poesia, de pegar as bebedeiras triviais, as angústias adolescentes e
transformá-las em arte é a mágica de Bukowski.
Repulsa, nojo,
ódio, amor, paixão e melancolia. Esses são alguns dos sentimentos que mais
inspiraram Charles Bukowski, que passou a vida nos becos dos Estados Unidos, na
composição de toda sua obra. Cada poesia, cada romance e cada conto do escritor
traz um pouco da vida do "Velho Safado", como ficou conhecido no
mundo inteiro. E Howard Sounes é prova disso. O jornalista inglês
assina "Charles Bukowski - Vida e loucuras de um Velho Safado" (Ed.
Conrad); biografia considerada uma das mais completas e sérias do gênero.
Funcionário dos
Correios até os 49 anos, Bukowski sonhou a vida inteira em ser reconhecido pelo
seu trabalho como escritor. Dono de um talento nato, o poeta usava a
simplicidade e a singularidade dos fatos mais rotineiros e transformava o
cotidiano em obra de arte. Inconformado e, sempre, com uma garrafa na mão, ele
sentava em sua antiga máquina de escrever e, com uma sutileza surpreendente,
deixava fluir seus pensamentos sem censura alguma. Bukowski vivia em um mundo
atormentado e distorcido, totalmente fora dos padrões impostos pela sociedade
de sua época.
O escritor nunca fez questão de esconder que seus trabalhos eram,
quase sempre, autobiográficos. E sua falta de discrição era tão grande, que
durante toda vida teve de lidar com a quebra de laços de amizade. Ele citava,
sem qualquer preocupação, nomes e, quando muito inspirado, fazia duras críticas
às pessoas que o cercavam. Algumas vezes os personagens "nada
fictícios" ficavam sabendo das peripécias do poeta bêbado após a
publicação dos textos.
Sua obra surtiu tanto efeito que alguns de seus contos e
romances acabaram sendo adaptados para o cinema por alguns diretores.
Inclusive, o próprio Bukowski recebeu diversos convites para escrever
argumentos, apesar de assumir que nunca gostou muito de filmes.
Bukowski
tem sido erroneamente identificado com a Geração Beat, por certos temas e estilo correlatos, mas sua
vida e obra nunca mostraram essa inclinação. A cidade de Los Angeles, suas ruas
e atmosfera, foram sua principal influência, tratando de histórias com temas
simples, misturando por exemplo corridas de cavalo, prostitutas e música
clássica. Ele escreveu mais de 50 livros, sem contar milhares de publicações
baratas.
Uma de
suas principais atividades durante anos foi a leitura de suas poesias em universidades
e eventos culturais. Sua leitura debochada às vezes provocava escândalos e
brigas com a plateia, algumas delas registradas em áudio. Já nos anos 1980,
Bukowski desfrutou de certa fama, convivendo com artistas e tornando-se uma
celebridade. Ele morreu de leucemia aos
73 anos, em 9 de Março de 1994, e em seu túmulo se lê "Don't Try",
"Não Tente" em português.
Com o tempo, apareceram alguns herdeiros seus na literatura, principalmente
na questão do estilo violento e despudorado de sua linguagem, e que acabou
inclusive tendo desdobramentos no cinema. Mas poucos são aqueles que como ele,
vivenciaram e permaneceram com naturalidade na sarjeta, fazendo dela, sua fonte
de inspiração. De todo aquele inferno imundo e fedido, Bukowski fez o seu
paraíso.
LIVROS PUBLICADOS NO BRASIL
Romances
· Cartas na Rua. São Paulo: L&PM Editores, 2011 (edição original 1971)
· Factotum. São Paulo: L&PM Editores, 2007 (ed. original 1975)
· Mulheres. São Paulo: L&PM Editores, 2011 (ed. original 1978)
· Misto quente. São Paulo: L&PM Editores, 2005 (ed. original 1982)
· Hollywood. Porto Alegre: L&PM Editores, 1990. (ed. original 1989)
· Pulp. Porto Alegre: L&PM Editores, 1995. (ed.
original 1995)
Contos,
poesia, não-ficção
· Ao Sul de
Lugar Nenhum - Histórias da Vida Subterrânea. Porto Alegre: L&PM Editores,
2008.
· O Amor é
um Cão dos Diabos. Porto Alegre: L&PM Editores, 2007.
· Vida
desalmada. Florianópolis: Spectro, 2006.
· Essa
loucura roubada que não desejo a ninguém a não ser a mim mesmo amém. Curitiba:
7 Letras, 2005.
· Tempo de
vôo para lugar algum. Florianópolis: Spectro, 2004.
· Hino da
Tormenta. Florianópolis: Spectro, 2003.
· Os 25
Melhores Poemas de Charles Bukowski. Rio de Janeiro: Bertrand, 2003.
· O capitão
saiu para o almoço e os marinheiros tomaram conta do navio. Porto Alegre:
L&PM Editores, 1999.
· A mulher
mais linda da cidade. Porto Alegre: L&PM Editores, 1997. (coletânea)
· Numa
Fria. Porto Alegre: L&PM Editores, 1993.
· N.York,
95 cents ao dia. Porto Alegre: L&PM Editores, 1991 (quadrinhos).
· Delírios
Cotidianos. Porto Alegre: L&PM Editores, 1991 (quadrinhos).
· Fabulário
Geral do Delírio Cotidiano. Porto Alegre: L&PM Editores, 1986.
· Notas de
um velho safado. Porto Alegre: L&PM Editores, 1985.
· Crônica de um amor louco. Porto Alegre:
L&PM Editores, 1984
· Bukowski
- Textos Autobiográficos. Porto Alegre: L&PM Editores, 2009
· Pedaços
de um caderno manchado de vinho. Porto Alegre: L&PM Editores, 2010
Revista em quadrinhos
· Delírios Cotidianos. Porto Alegre: L&PM Editores, 2008
Filmes baseados em obras
· Barfly
· Factotum
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