terça-feira, 5 de janeiro de 2010

História do Uma Noite na Taverna - Parte I: Gênese Tavernista.

O evento Uma Noite na Taverna aconteceu pela primeira vez no dia 16 de janeiro de 2004, no restaurante do SESC de São Gonçalo. Mas o ano de 2003 serviu para sedimentar o que viria a se tornar um dos maiores, ou senão o maior, eventos de poesia de São Gonçalo. Em maio de 2003, mais precisamente no dia 09, o poeta Romulo Narducci subia ao palco do teatro do mesmo SESC acompanhado do violinista André Cipolla para apresentar pela primeira vez a um tímido público de mais ou menos 50 pessoas a sua poesia autoral através de seu recital litero-mucical e teatral Dissolvendo Sombras.



Narducci num momento do Dissolvendo Sombras.

O violinista André Cipolla deu um tom sombrio no recital.


Em junho do mesmo ano era a vez do Bardo Rodrigo Santos debutar para a arte. Após deixar a Marinha para investir no sonho de ser professor, o poeta lançou o seu primeiro livro de poesia "Máscaras Sobre Rostos Descarnados" na Faculdade Universo de São Gonçalo. A obra de Rodrigo Santos traz uma influência marcante do Mal do Século, tendo bebido o bardo gonçalense dos haustos áureos de seus mestres Álvares de Azevedo, Fernando Pessoa e Florbela Espanca. A capa de sua obra vem estampada uma foto de sua autoria tirada no Cemitério do Maruí, em Niterói, do arcanjo Miguel ostentando um escudo defensivamente em um braço e uma espada quebrada em outra mão. Segundo Rodrigo Santos, esse é o estado do poeta em seu meio, que sem armas para lutar, cabe a este apenas defender-se do mundo.




Pouco antes do lançamento do livro de Rodrigo Santos, os poetas vieram a se conhecer por acaso num show tributo a banda The Doors no Bar do Blues, em São Gonçalo. O poeta Romulo Narducci distribuía o seu zine de poesia "Espinhos" quando foi abordado pelo bardo Rodrigo Santos que também identificou-se como poeta. Porém, com os ânimos exaltados pela boemia os dois acabaram por não trocar contatos, mas um fato curioso do destino foi que ambos tinham amigos em comum, o que veio a incidir num novo encontro e enfim começar uma grande amizade.

Os dois poetas passaram a frequentar o mesmo ciclo de amizades e assim demonstaram uma fome voraz em comum, a de apresentar os seus trabalhos ao público. Conversavam sobre o fato de que algo deveria ser feito naquela cidade que nada acontecia em relação a poesia na época, mas a dificuldade de como levar suas obras ao público ou de achar um local para que isso fosse feito era um empecilho para os dois artistas.

Porém, em novembro de 2003, o universo conspirou a favor dos poetas sonhadores. O SESC São Gonçalo, devido a repercussão do "Dissolvendo Sombras", entrou em contato com o poeta Romulo Narducci oferecendo um espaço para que fosse realizado algum projeto que envolvesse poesia. Romulo não perdeu tempo, ligou imediatamente para o amigo Rodrigo e disse que já tinham o lugar para realizar o tão sonhado projeto, o evento chamou-se de imediato Uma Noite na Taverna, numa alusão à obra do grande poeta Álvares de Azevedo. Dessa forma, os jovens poetas transcederam o papo de bar e puseram mãos à obra para a organização do que seria a primeira edição da Taverna. Apesar da correria e dos poucos recursos, pois no início o SESC só oferecia o espaço, tudo fluiu bem. O primeiro cartaz de divulgação foi impresso num computador por Ricardo de Sousa, irmão de Rodrigo Santos, e o som para a realização do evento foi emprestado pela banda Camarilla. Tudo estava ajustado para a estréia, que foi marcada para o dia 16 de janeiro de 2004.

Uma semana antes da grande estréia, num domingo, a organização definitiva do evento aconteceu numa reunião regada a uísque Ballantines, cachaça curtida em passas e cantoria até altas horas da madrugada, no apartamento onde o bardo Rodrigo Santos morava com seu irmão, num prédio do Mutondo, em São Gonçalo. Tudo se deu enquanto os dois poetas organizavam a ordem das apresentações, quando chegou Pakkatto, com um violão e uma garrafa de uísque debaixo dos braços. Pakkatto seria o primeiro músico a tocar no evento, surpreendendo com suas músicas autorais.

A GRANDE ESTRÉIA


O ineditismo marcou. Foi magia pura. O clássico frio na barriga tomou conta de Rodrigo e Romulo. Dias antes ouviram que eram loucos em tentar fazer um evento de poesia em São Gonçalo, mas não desistiram, era preciso seguir em frente e seguiram. Carregaram caixa de som nas costas, chegaram cedo para ornametarem o ambiente, transformando o restaurante do SESC numa verdadeira taverna com iluminação de velas e vinho (que antes só era servido aos artistas que se apresentavam) e receberam os primeiros artistas convidados que iriam dar o chute inicial no projeto. Foram eles: os poetas do grupo Os Infames (Rod Britto, Guila Sarmento e Xisto da Cunha), Fábio Mucci e Antonio Tolissano, as atrizes Marcela Rosa e Olívia Zisman, o trovador Pakkatto e o artista plástico Moisés de Oliveira.

O público foi chegando aos poucos para o alívio dos poetas residentes e para a surpresa dos mesmos encheu o restaurante do SESC, fazendo da primeira edição do Uma Noite na Taverna pura magia. O público presente ficou atento a cada detalhe, ouviu em silêncio cada poeta e aplaudiu, aplaudiu bastante cada performance. Na primeira edição os poetas Rodrigo Santos e Romulo Narducci recitaram poemas de seus grandes mestres. O público ouviu clássicos como "Poema em Linha Reta" de Álvaro de Campos (pseudônimo de Fernando Pessoa), "O Albatroz" de Charles Baudelaire, "Canção da Torre mais Alta" de Arthur Rimbaud, "Lembrança de Morrer" de Álvares de Azevedo, entre outros. Com a alma lavada, Rodrigo Santos e Romulo Narducci já começaram a preparar a segunda edição.

Um comentário:

Regilan disse...

Muito manero, vai ser a sexta do Euclides da Cunha!!!! Quero assistir! Só não irei se o trabalho não permitir! Todo o site nos faz querer conhecer "A Noite na Taverna" e poetizar!!!

Saudações Vascaínas!!!

Regilan