Nessa sexta-feira, 15/02, a partir das 19 horas, no SESC São Gonçalo, o Uma Noite na Taverna, ainda sob os resquícios da festa de Momo, irá homenagear os poetas do samba.
Os poetas tavernistas irão recitar alguns dos autores mais importantes (ou interessantes) do samba. O intuito é mostrar, como já foi feito em outras edições do Uma Noite na Taverna, a importância do conteúdo da poesia dentro da música.
O evento irá contar pela primeira vez com a participação de duas poetas, Daniella Dell Ossi e Ananita Rebouças, e ainda com o bardo romântico Carlos Orfeu (que já recitou em várias edições do evento). A música ficará por conta de Leon Costa, excelente compositor de São Gonçalo, mentor e integrante da banda Quebra-Telhas, que irá apresentar ao público o seu trabalho autoral. E ainda, exposição de artes plásticas de Beatriz Peixoto.
E O SAMBA, COMO FOI QUE PINTOU?*
*(trecho de A História do Samba de Graziela Salomão)
"O samba, como conhecemos atualmente,
tem origem afro-baiana, temperado com misturas cariocas. Nasceu da influência
de ritmos africanos, adaptados para a realidade dos escravos brasileiros e, ao
longo do tempo, sofreu inúmeras transformações de caráter social, econômico e
musical até atingir as características conhecidas hoje.
O gênero, descendente do lundu (canto
e dança populares no Brasil do século XVIII), começou como dança de roda
originada em Angola e trazida pelos escravos, principalmente para a região da
Bahia. Também conhecido por umbigada ou batuque, consistia em um dançarino no
centro de uma roda, que dançava ao som de palmas, coro e objetos de percussão e
dava uma ''umbigada'' em outro companheiro da roda, convidando-o a entrar no
meio do círculo.
Com a transferência, no meio do
século XIX, da mão-de-obra escrava da Bahia para o Vale do Paraíba e, logo
após, o declínio da produção de café e a abolição da escravatura, os negros
deslocaram-se em direção a capital do país, Rio de Janeiro.
Instalados nos bairros cariocas de Gamboa
e Saúde, eles dariam início à divulgação dos ritmos africanos na Corte. Eram
nas casas das tias baianas, como Amélia, Ciata e Prisciliana, que aconteciam as
festas de terreiro, as umbigadas e as marcações de capoeira ao som de batuques
e pandeiros. Essas manifestações culturais propiciariam, conseqüentemente, a
incorporação de características de outros gêneros cultivados na cidade, como a
polca, o maxixe e o xote. O samba carioca urbano ganha a cara e os ritmos
conhecidos (...)"
O PRIMEIRO SAMBA GRAVADO E A SUA EVOLUÇÃO
Ernesto Santos, o Donga (autor do primeiro samba, "Pelo Telefone") |
Um marco dentro da
história moderna e urbana do samba ocorreu em 1917, no próprio Rio de
Janeiro, com a gravação em disco de "Pelo Telefone", considerado o primeiro samba a ser gravado
na Brasil (segundo os registros da Biblioteca Nacional). A canção tem a autoria
reivindicada por Ernesto dos Santos, mais conhecido como Donga,
com co-autoria atribuída a Mauro de Almeida, um então conhecido cronista
carnavalesco. Na verdade, "Pelo Telefone" era uma
criação coletiva de músicos que participavam das festas da casa de tia Ciata, mas acabou registrada por Donga e Almeida na Biblioteca Nacional. "Pelo
Telefone" foi a primeira composição a alcançar sucesso com a
marca de samba e contribuiria para a divulgação e popularização do gênero. A
partir daquele momento, esse samba urbano carioca começou a ser difundido pelo
país, inicialmente associado ao carnaval e
posteriormente adquirindo um lugar próprio no mercado musical. Surgiram muitos
compositores como Heitor dos Prazeres, João da Baiana, Pixinguinha e Sinhô,
mas os sambas destes compositores eram amaxixados,
conhecidos como sambas-maxixe.
Embora outras
gravações tenham sido registradas como samba antes de "Pelo
Telefone", foi esta composição assinada pela dupla Donga/Mauro
de Almeida que é considerada como marco fundador do gênero. Ainda
assim, a canção tem autoria discutida e sua proximidade com o maxixe fez com que
fosse designada por fim como samba-maxixe. Esta vertente era influenciada pela dança maxixe e
tocada basicamente ao piano -
diferentemente do samba carioca tocado nos morros - e teve como expoente o
compositor Sinhô,
auto-intitulado "o rei do samba", que com outros
pioneiros como Heitor dos Prazeres e Caninha,
estabeleceriam os primeiros fundamentos do gênero musical.
Heitor dos Prazeres, Rio de Janeiro RJ , 1956 Foto Otto Stupakoff |
Os contornos modernos
desse samba urbano carioca viriam somente no final da década de 1920, a partir de inovações em duas frentes: com um grupo de
compositores dos blocos carnavalescos dos bairros do Estácio de Sá e Osvaldo Cruz e com
compositores dos morros da cidade como em Mangueira, Salgueiro e São Carlos. Não por acaso,
identifica-se esse formato de samba como "genuíno" ou "de
raiz". A medida que o samba no Rio de Janeiro consolidava-se como uma
expressão musical urbana e moderna, ele passou a ser tocado em larga escala
nas rádios,
espalhando-se pelos morros cariocas e bairros da zona sul do Rio de Janeiro. Inicialmente
criminalizado e visto com preconceito, por suas origens negras, o samba
conquistaria o público de classe média também.
O samba moderno
urbano surgido a partir do início do século XX tem ritmo basicamente 2/4 e andamento variado, com
aproveitamento consciente das possibilidades dos estribilhos cantados ao som de
palmas e ritmo batucado, e aos quais seriam acrescentados uma ou mais partes,
ou estâncias, de versos declamatórios. Tradicionalmente,
esse samba é tocado por instrumentos de corda (cavaquinho e vários tipos de violão)
e variados instrumentos de percussão, como o pandeiro,
o surdo e o tamborim.
Por influência das orquestras norte-americanas em voga a partir da Segunda
Guerra Mundial, e pelo impacto cultural da música dos EUA no pós-guerra, passaram a ser utilizados também
instrumentos como trombones e trompetes, e, por influência do choro, flauta e clarineta.
Com o passar dos
anos, surgiram mais vertentes no seio desse samba "nacional" urbano
carioca, que ganharam denominações próprias, como o samba de breque, samba-canção, a bossa nova, o samba-rock, o pagode,
entre outras.
Pixinguinha em ação. |
Dentro do processo de
modernização do samba urbano carioca, surgia também o futuramente conhecido Samba de partido-alto. Com suas origens nas umbigadas africanas e é a forma
de samba que mais se aproxima da origem do batuque angolano, do Congo e regiões próximas. O partido-alto
costuma ser dividido em duas partes: o refrão e os versos.
A primeira parte é o
núcleo do qual correm soltos os versos improvisados. Esta cantoria é a arte de
criar versos, em geral de improviso e constituído de peças da tradição oral, e
cantá-los sobre uma linha melódica preexistente ou também improvisada,
praticada, em diversas modalidades. Por ter uma essência baseada na
improvisação, o samba de partido-alto passaria a ser muito cantado
principalmente nos chamados "pagodes", habituais reuniões festivas,
regadas a música, comida e bebida, e mais adiante nos terreiros das futuras escolas
de samba cariocas.
O grande propulsor de mudanças dentro do samba urbano carioca
foi o bairro de Estácio de Sá. Foi nesse bairro que se gestaria o novo e definitivo samba urbano
carioca, com a chamada "Turma do Estácio" (Formada por
alguns compositores entre
os quais Alcebíades Barcellos (o Bide), Armando Marçal, Ismael Silva, Nilton Bastos e mais os malandros-sambistas Baiaco, Brancura, Mano Edgar, Mano Rubem),
onde surgiria a Deixa Falar, a primeira escola de samba brasileira.
A "Turma do Estácio" marcaria a história do samba brasileiro
por injetar ao gênero uma cadência mais picotada, que teve endosso de filhos da classe média, como o ex-estudante de direito Ary Barroso e o ex-estudante de medicina Noel Rosa.
Ary Barroso. |
As inovações rítmicas dos sambistas da Estácio de Sá foram
assimiladas por blocos carnavalescos em Osvaldo Cruz e também alcançaram os morros da Mangueira, Salgueiro e São Carlos, já que suas rodas
de samba eram frequentadas por compositores dos morros cariocas, como Cartola e Gradim (da Mangueira), Canuto (do
Salgueiro), Ernani Silva, o Sete (do subúrbio de Ramos), e posteriormente
outros futuros bambas como Nelson Cavaquinho, Carlos Cachaça e Geraldo Pereira, Paulo da Portela, Alcides Malandro Histórico, Manacé, Chico Santana e Aniceto do Império Serrano.
Acompanhados por
um pandeiro, um tamborim, uma cuíca e um surdo, estes
compositores terminariam por influenciar e lapidar as características
essenciais desse novo samba carioca urbano. Esse samba feito à moda do Estácio de
Sá e dos sambistas dos morros cariocas se firmaria como o samba carioca
"por excelência", e com o passar do tempo, "de raiz",
"autêntico".
2 comentários:
Legal mesmo a a construção e informações contidas aqui.
Para alimentar mais essa matéria, lá vai:
http://cifrantiga3.blogspot.com.br/2006/02/pelo-telefone-o-primeiro-samba.html
Abraços.
Essa foto com Paulo da Portela, Heitor dos Prazeres, Gilberto Alves, Alcebíades Barcelos (Bide) e Armando Marçal, serve para provar que os talentosos, independente de classe social, cultural e étnico, brilham sempre sem buscar piedade. Indepen
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