sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Entevista com Eduardo H Martins: Um Nephelim entre nós!

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Essa entrevista deveria ter sido publicada antes do evento Uma Noite na Taverna do último dia 12 de novembro. Por motivos alheios a nossa vontade, estamos publicando somente hoje, dois dias após a Taverna. Todas as referências aqui deverão ser reportadas cronologicamente ao dia do evento, que já ocorreu. Evoé e bom entretenimento!

Eduardo H Martins é um e vários. Artista tavernista multifaces, é poeta, fotógrafo, designer gráfico, dee-jay (sob a alcunha de Eduardo Nephelim) e ainda traz um passado de peso como ex-baterista da lendária banda de Doom Metal Sybolic Immortality, e ainda como batera de ter tido o momento mágico de abrir um show para a banda Krisiun.

Seu fascíno pela arte é descarado, o Nephelim tavernista fala de arte com um um olhar fixo nos olhos de quem pergunta, respira fundo e a plenos pulmões expõe as suas idéias. Um anjo rebelde das noite gonçalenses e um filho amado da arte tarvernista.

Recebi Eduardo H Martins em minha casa na véspera do feriado de Finados, às 23 horas, mais ou menos. Abdicamos da cerveja e do vinho e optamos por uma overdose de cafés expressos. Sob a assombrosa noite em meu terraço, à luz de velas, em honraria à taverna e à memória de tantos mestres que não se encontram mais em nosso mundo, batemos um papo-cabeça sobre suas influências e experiências na música, poesia, no mundo das artes em geral, enfim, conheçam vocês mesmos o poeta, o amigo, o artista, o tavernista, pois como sabemos agora, há...

UM NEPHELIM ENTRE NÓS

Boa Noite, Eduardo. A arte sempre fez parte de sua vida?

Pelo menos desde que eu me entendo como gente. Na verdade, tudo começou... não sei, acho que desde criança. Eu sempre fui uma criança introspectiva, uma criança meio calada. Até minha mãe mesmo dizia que eu não era muito de chorar. Eu parava num cantinho, brincava sozinho... sei lá, no colégio também eu sempre fui bastante observador.

Quando você notou pela primeira vez que você tinha um dom para a arte?

Não sei nem se eu tenho (risos).

Começou na música, certo?

Bem, eu li uma matéria há algum tempo atrás, num blog de um amigo que me definiria muito bem... foi no blog de um amigo chamado Romulo Narducci (risos). Ele disse que brigava muito consigo mesmo, que não sabia no início se era poeta ou músico. Eu acho que isso me define bastante bem, porque eu tentava cantar minhas poesias, tentava... musicar... er... na verdade, eu acho que eu tentava musicar minhas poesias e cantar os meus pensamentos. Eu acho que é mais ou menos por aí.

Então essa coisa de você escrever pensando como compositor, já vem há muito mais tempo do que quando você se descobriu poeta?

Muito. Eu comecei a escrever, mais ou menos na época em que eu comecei a tocar com uns quinze ou dezesseis anos. Er... aí, eu comecei a tocar e comecei a fazer parte de alguns grupos, de algumas bandas e tudo o mais. Mas aquilo não era só o que eu pretendia. Sentar atrás de um instrumento , fazer um som era legal, mas...

Espera! Você falou em sentar-se atrás de um instrumento. Só para esclarecer...

É, bateria!

E o que você ouvia? Que tipo de música começou a te influenciar a ponto de você querer tocar e montar uma banda? Enfim, qual o estilo musical que te impulsionou a ser músico?

Bem, as primeiras coisas que eu me interessei, acho que mais ou menos era o que as pessoas de nossa idade costumava ouvir, que era Black Sabbath, Iron Maiden... eu criei um certo fascínio depois para ouvir The Doors, mas o que me fez escolher o instrumento mesmo, acho que foi o Rush.

Humm... Rush?

Foi... foi, eu tinha uns amigos que eram viciados no Rush. Inclusive, um deles faleceu há pouco tempo, que foi o Leandro. Eram gêmeos, inclusive. E ali todos eram fissurados pelo Rush. E aí, eles me mostraram isso e eu com os meus dezesseis ou dezessete anos, por aí. Bem, eu... eu já tinha um certo fascínio, comecei a tocar um pouco antes, mas ainda tinha determinadas dúvidas em relação a instrumento. Eu me configurei como baterista mesmo, depois que eu conheci o Rush.


Então, Neil Peart é o seu herói?

Foi o meu divisor de águas! Eu já tocava, mas eu tinha, ainda, aquela coisa do baixo, aí eu depois disse: “não, é isso que eu quero fazer!”

E qual foi a primeira banda que você tocou? Foi de Rock, certo? Na verdade, você fez sua carreira de músico sempre dentro do Rock, não é?

Bem, eu fiz muita coisa sem expressão. Tocava com amigos e tudo o mais. Mais, mesmo por diversão. Com meus dezessete anos, eu conheci uns amigos que resolveram: “Não, agora sim! Vamos fazer uma coisa séria!” Aí surgiu a Symbolic Immortality. Essa foi a minha primeira banda séria que eu tive. A gente chegou a gravar demo tape [fita k-7 que as bandas gravavam no estúdio], a compor de verdade, com música de início, meio e fim. Então, eu comecei a escrever e participar ativamente disso. A gente tocou em outros estados, gravamos duas demo tapes e um compacto que foi distribuído no mundo inteiro. Eu acho que até hoje tem gente ganhando dinheiro com isso, aí pra fora.

Como assim? Vocês não viram nenhum puto desse dinheiro?

Exatamente. A gente não viu nenhum tostão. A esmola que a gente teve por conta da gravadora, que não existia nessa época, pois eram apenas selos independentes, era que eles davam um determinado número de cópias de LP’s [Long Play / disco de vinil] para as bandas e o resto eles faziam o que eles quisessem. E você gravava, gastava dinheiro com ensaio, com instrumentos, que não era uma coisa barata; hoje em dia você tem uma certa facilidade.

Hoje você faz um estúdio em casa, mesmo.

É, se você tiver um computador e um programa decente, você monta um estúdio em casa.

E quem tocava com você no Symbolic Immortality?

Começou comigo, com Esaú, que era o baixista e vocalista, e... o Alan, que era o guitarrista, e é o meu amigo até hoje! Essa foi a primeira formação da banda. Depois, o Alan deixou a gente por motivos pessoais e tal, e entrou uma pessoa que até hoje em dia é bem conhecido no meio da arte gonçalense. Ele participou também, teve a sua colaboração. Se você perguntar para ele, ele vai dizer é que teve a sua parcela de culpa (risos).

Eu bem sei quem é.

Sim, o nosso amigo Leandro Ribeiro.

Eu sei que vocês têm muitas gravações. Inclusive, eu sou um privilegiado em ter algumas coisas da banda...

O compacto Yogan, foi gravado com ele [Leandro Ribeiro]. Ele participou de um material que foi distribuído pelo mundo inteiro. Saiu até uma matéria no jornal O Fluminense assim “Banda Gonçalense Explode na Europa!” Saiu essa matéria no jornal e eu nem tenho isso pra provar!

Poxa, com isso nem um show na Europa? Não apareceu grana, nem nada?

Não. Surgiram apenas alguns boatos. Eu recebi algumas cartas, mas nada que fosse considerável, até porque nessa época uma banda para sair daqui com os instrumentos nas costas, a própria banda que teria que bancar a passagem e a gente não tinha condições de fazer isso. Sair daqui, bancar tudo e ir para a Europa excurcionar, ninguém tinha condições de fazer isso. Todo mundo era assalariado, trabalhador, moleque, todos garotos, apenas, né. Nessa época eu tina apenas uns dezenove anos. Então, não tinha como fazer muita coisa.

E porque acabou?

A coisa foi acontecendo e chegou num certo patamar que... começamos a ter problemas internos, dentro da banda, problemas religiosos...

Religiosos? (risos)

É, o vocalista começou a se achar um deus e o resto da banda não concordava com isso (risos). Enfim, ele teve problemas, e aí a gente resolveu se afastar por nossos problemas pessoais também. A gente começou a se estranhar por causa de outras coisas, já não estava fluindo, já não tinha a mesma freqüência.

E depois do Symbolic Immortality, não surgiu mais nenhum projeto de expressão?

Eu fiz uma participação na Cold Blood, que é uma banda de uns amigos, foi legal, a gente até abriu um show pro Krisiun, que é uma banda hoje em dia mundialmente conhecida. Mas na verdade, foi mais para quebrar um galho, mesmo. Eles estavam precisando de um baterista para fazer esse show, porque por algum motivo o baterista deles não poderia tocar, aí eu fui lá. A gente ensaiou por um mês, uma coisa meio que briga comprada, né. Tipo: “Vamos tocar? Vamos tocar!” Ensaiamos por um mês e fomos para dentro pra ver no que ia dar. E foi bacana, foi bem legal.

Depois disso, você então parou com a música?

Eu fui viver! Fui viver, fui fazer outras coisas, participar de outras coisas. Foi quando o poeta começou a falar mais alto. E eu tinha muito pra dizer e ninguém pra me ouvir. Resolvi escrever. As coisas foram acontecendo e as pessoas começaram a prestar atenção.

Quando você recitou pela primeira vez? Quando você pôde mostrar isso para o público?

Nem me lembro, me diz você! (risos)

Er... foi na Taverna? (risos)

Foi, foi na Taverna! Culpa sua, inclusive!

Oh, mea culpa! (risos)

Como eu disse, eu sempre fui muito tímido, muito introspectivo.


Lembrei! Foi na época em que o evento acontecia no extinto Jardim da FASG [Fundação de Artes de São Gonçalo]!

Exato! Er... assim, veio meio que aquela coisa de “alguém vai ter que me conhecer pelas coisas que eu escrevo e eu não tenho ninguém para fazer por mim”.

E a partir daí, com o lado poeta assumido, não parou mais de escrever...

Não parei mais! Na verdade, eu nunca parei. A grande questão é que eu não tinha esse... esse... eu acho que não tenho até hoje esse feeling pra recitar. Principalmente as coisas que eu escrevo.

Sei. Mas agora a faceta do poeta é que coexiste com o Eduardo H Martins?

Exato. Está aí até hoje. Adormeceu durante um tempo, mas está aí! Apesar de até hoje, eu achar que as coisas que eu escrevo foram feitas para serem cantadas. Mas, hoje em dia eu consigo declamá-las. É muito complicado, porque eu... acho que isso acontece com todos os poetas, pois a partir do momento em que você abre aquele caderno de manuscritos pra alguém, acho que você está mostrando a sua nudez. A nudez de sua alma. A nudez de seu interior. Então, pra mim, hoje isso ainda é muito complicado. Tem muitas coisas que eu escrevo que eu não saberia recitar, coisas que eu não saberia como explicar... Inclusive tem uns tapas na cara que tomo até hoje ao pegar um caderno, uma coisa antiga, e ver que isso hoje em dia parece uma premonição e não uma poesia. Coisas que aconteceram em minha vida...

Que acaba ficando implícito no passado e volta como num looping, né?

Exato.

É acontece com nós poetas (risos).

Exatamente (risos).

E quais foram os escritores que despertaram em você a paixão pela poesia?

Ah, isso é muito fácil... Er... comecei ouvindo... Ih! Ouvindo? (risos)

Rapaz, olha que só estamos tomando café, hein! (risos)

Verdade! Bem, eu comecei com os clássicos que foram Augusto dos Anjos, Álvares de Azevedo... mas nesse caso, o meu divisor de águas na literatura foi o Fernando Pessoa.

Quer dizer que o Fernando Pessoa foi o seu mestre?

Não sei se isso é bom, ou é ruim (risos). Mas ele, a obra dele deu criação a outra, pode ter certeza. Assim, desobstruiu muita coisa a minha visão de ver as coisas, a minha forma de ver o mundo... O Poema em Linha Reta, acho que foi até o ”pior” de todos!É muito humano, é muito pessoal. A minha obra, a minha literatura, os meus poemas, são muito assim. Eu gosto de falar sobre as pessoas, eu gosto de falar sobre sentimentos. É muito bom você ler sobre outras coisas, falar sobre outras coisas, mas eu, Eduardo, gosto de falar de sentimentos.

É como diz o lema de seu blog, certo?

Vida, arte e... e...

Seria transtorno? (risos)

Nem eu me lembrava (risos)

Esse café ta foda! (risos) Mas sobre a questão de escrever sobre sentimentos, me diga, qual o sujeito, qual o eu poético que você encarta na sua poesia na hora da concepção? Por exemplo, antigamente eu mesmo dizia criar alguns personagens a partir de observações do meio e do cotidiano para escrever, o que na verdade era uma grande mentira...

O poeta é um fingidor!

Exatamente. Mas e quanto a você? São todos os seus transtornos expostos em sua poesia?

As vezes eu me apodero dos transtornos alheios, também. Eu gosto muito de ouvir as pessoas. Então, isso me ajuda bastante, eu tento entender essa... o que está na mente das pessoas, o que faz que elas tomem determinadas posições sobre determinadas situações, e eu canalizo isso. Mas eu gosto mesmo é de escrever na primeira pessoa. É muito por aí, eu me sirvo do sentimento alheio. Tem muita coisa que sou eu, mas as vezes eu misturo coisas minhas, sentimentos meus com sentimentos de outras pessoas. Então, er... mas eu gosto de me colocar nesse lugar, como se o sofredor fosse eu. Como se o poema se restringisse a mim. Eu gosto disso.

Você tem produzido bastante como poeta, tem escrito muitas poesias?

Não como eu gostaria.

E como você gostaria de estar produzindo?

A gente sempre quer escrever mais do que a gente está escrevendo. A gente sempre quer falar de muitas coisas. Tem uns temas que estavam me perturbando, então a gente acaba exorcizando algumas coisas, algumas sensações, algumas emoções... eu pelo menos, em termos de poesia, eu escrevo e deixo lá. Daqui a um tempo eu vou lá e olho. De repente, ela fica, de repente ela vai para algum lugar. Mas eu... isso é uma outra coisa que eu gosto de fazer. Pois eu não gosto que uma idéia me incomode, ela tem que sair da minha cabeça e ir para algum lugar, e ela vaia para ali!

Nem que seja um fragmento, né?

Nem que seja um fragmento, mas eu não gosto de fragmentos. Eu gosto de... eu fico... bem, eu tenho o costume de dizer que a poesia surge de uma idéia. Se essa idéia persistir por mais de três dias, ela vira poesia, ela vira conto, ela vira o que for. Mas ela só vai se tornar uma coisa se ela permanecer na sua cabeça por mais de três dias. Algumas pessoas tem esse hábito de pensar e já jogar [no papel]. Eu mesmo já fiz isso durante muito tempo, mas quando eu penso e jogo, normalmente eu vou lá e mexo. Mas quando ela permanece aqueles três dias, ou uma semana, ou até um mês, ela vira uma coisa melhor, modéstia à parte.

No seu caso, a poesia tem que ter, então, um tempo de maturação?

Exatamente. Ela está ali, ela está na incubadora, ela está se fortalecendo para se tornar uma coisa melhor que um fragmento. É uma espécie de masturbação mental, ela vai surgindo, a gente vai brincando com a idéia, o fragmento vira uma idéia, a idéia dá uma razão a um sentimento, daí ela sai. Normalmente quando ela sai assim, ela sai muito melhor do que escrever um fragmento e dali partir para o que for, conto, poesia e tudo o mais.

Já pensa num livro?

Idéia de livro? Uhum! Eu tenho a idéia de um romance que está me perturbando há um ano. É um romance que trata sobre um personagem que a partir de um momento em que ele toma uma decisão na vida... er... tudo muda... a intenção é mais ou menos essa, o nome do romance será “Do Outro Lado da Rua”. A partir do momento em que ele resolve atravessar pro outro lado da rua, a sua vida muda. Na verdade, seria uma menção a essa coisa de decisões, de você ter que tomar decisões, escolhê-las, sendo elas as melhores ou não. Eu tenho o costume de dizer que eu não tenho muito orgulho de todas as decisões que eu tomei na minha vida. Mas eu tenho orgulho de ter tido as decisões que eu precisei tomar na minha vida. Eu tenho orgulho de ter uma história, de precisar tomar essas decisões. Posso não me orgulhar de todas elas, mas me orgulho de tê-las.

E poesia? Algum plano já para um livro de poesia? Afinal, você já tem bastante coisa escrita e já tem gente te perturbando por isso...

Tem gente sim, me perturbando! Vossa pessoa, inclusive, né? (risos)

Eu não sei de nada! Mas diz aí!

Bem, idéia... sempre tem, né? Sempre tem alguma coisa pra acontecer... er... eu estou pensando de até o início do próximo ano, de 2011, dar seqüência nisso, num livro de poesia. Não sei se vai sair antes do romance, mas... as coisas vai acontecendo. Eu vou deixar as coisas acontecendo, até porque estou numa fase de muitas pretensões artísticas. Estou me envolvendo cada vez mais, nisso.

E tem a fotografia também, não é?

É. É uma das minhas paixões! Eu tenho a idéia de um livro que trabalhe a fotografia e a poesia. Sei que tem muita gente que já faz isso, de casar uma imagem com um poema. Mas será uma imagem minha com um poema meu. O poema vai explicar a imagem e a imagem vai definir o poema. Essa coisa é difícil, você casar uma imagem com um poema. Eu tenho poemas que eu tenho imagens na cabeça. Não sei nem se eu vou conseguir fotografar esse poema, ou explicar essa imagem. Mas... eu vou tentar, vou tentar. É um projeto que... é uma outra coisa que eu já estou pensando durante muito tempo. É mais uma idéia que me incomoda há muito tempo.

Quer dizer que você é um homem atormentado pelas suas idéias (risos).

Muito, muito atormentado (risos). E elas estão guardadas há muito tempo. Então resolvi colocar tudo pra fora. Tem uma hora que, eu não sei... se o mundo vai me agradecer ou não (risos).

Mas, porquê? O artista tem que simplesmente criar e “ponto”.

Eu sei, mas eu não sei se as pessoas vão gostar. Foi isso que eu quis dizer.

Não esquenta, o artista quando incompreendido será um dia honrado pela posteridade.

É... é... eu espero não ter que esperar uns cinqüenta ou cem anos para ser compreendido, né? (risos) Nem tenho a pretensão, mas... para me tornar tese de mestrado de alguém (mais risos) ou coisa parecida... mas enfim, eu também não peço muito. Só que as pessoas me leiam, gostando ou não. Que venham as críticas!

Fazendo um pouco de “universo umbigo”, falemos um pouco sobre a Taverna, o que é o Uma Noite na Taverna para você?

Eu acho que não tem melhor palavra para definir a Taverna do que “casa”. Pra mim, a Taverna é minha casa. Desde o início, eu participei e acompanhei as idéias iniciais do projeto, eu me lembro que você eu já conheço há bastante tempo, mas o Rodrigo eu conheci através dessa idealização da Taverna. E eu adorei ver esse filho nascendo, adorei participar da criação e adorei ver a criança correndo... e a criança está crescendo!

Crescendo nervosa! (risos)

Está ficando nervosa, ficando abusada, ficando revoltada... Hoje em dia até quem não gosta de poesia conhece o Uma Noite na Taverna. E as pessoas vão para conhecer e acabam gostando. Eu tive a honra de estar em alguns eventos e perceber... assistir a alguns poetas novos que já são influenciados por Rodrigo Santos e Rômulo Narducci. Isso é fantástico!

Tá! Chega! (risos) Rapaz, me diz aí, e a arte em nossa cidade? Como você vê a arte na cidade de São Gonçalo?

Hoje eu vejo arte em São Gonçalo! Há 6 anos e pouco atrás eu não via arte em São Gonçalo! É por isso que eu digo que eu chamo a Taverna de minha casa, porque eu vi esse filho nascer, vi essa criança crescer e antes você não tinha nada disso. Era uma casa vazia, sem brilho, sem alegria. Ainda é uma cidade dormitório!

E o que você acha que precisa para mudar isso? Esse quadro de cidade dormitório?

As pessoas deixarem de olhar para os seus próprios umbigos! Porque quando aparece algum projeto “cultural” em São Gonçalo, a pessoa está mais preocupada em autopromoção. Então, faz um, dois, três eventos... e a pessoa está preocupada em falar sobre coisas particulares do que sobre cultura de verdade. Eu acho que é por isso que a Taverna deu tão certo. Porque é um evento multicultural. Não é como você falou de universo umbigo. Eu tenho consciência de que eu estou aqui hoje, por merecimento. Mas eu também acho que tem algumas pessoas que não teriam onde fazer isso e a Taverna abriu as portas para essas pessoas, elas sendo boas ou não. Então, a partir daí você vê, quem é bom ou não. Quem tem alguma coisa para mostrar ou não. Tem pessoas que já se apresentaram no Uma Noite na Taverna e depois sumiram. Voltaram para suas vidas e tudo mais. Diante de um momento que elas viram uma oportunidade de aparecer... de... criar alguma coisa, só que não souberam dar seguimento a isso. E, enfim, eu acho que artista não tem que se preocupar com a imagem, a sua imagem, como eu já disse antes, a partir do momento em que eu mostro um manuscrito para uma pessoa eu estou tirando a minha roupa, a partir do momento em que eu declamo os meus poemas eu estou abrindo o meu peito. Então, isso é muito difícil, mas ao mesmo tempo gratificante. Não porque as pessoas aplaudem, não porque as pessoas estão gostando, tem muita gente que não gosta, a gente sabe disso, tem muita gente que não presta atenção e no final da história bate palmas. Mas também, tem muitas pessoas que saem de lá e olham na sua cara e dizem que você pode não ser bom, mas sabe o que dizer. É mais ou menos por aí. Minha poesia não vai mudar nada! Não vai mudar o mundo! Não vai mudar a cabeça de uma, duas ou três pessoas, mas a partir do momento em que essa pessoa presta atenção em alguma coisa que eu escrevo, isso é gratificante.

Cada poesia para um poeta é como um filho. Eu sei que é difícil escolher entre elas, mas cada um tem alguma poesia que marca a sua obra. No seu caso, qual a sua poesia que você considera dessa forma?

Tem uma que é sem título, inclusive. Ela fala sobre hipocrisia. Ela fala sobre uma coisa implícita... você faz ou não o que quer, na frente de quem você quer ou não... e ela termina simplesmente assim: “Talvez os meus amigos estejam bêbados de mais para conversar.” É mais ou menos, por aí. Estou cansado de tapinhas nas costas. Um olhar diz muito mais do que um tapinha nas costas. Essa poesia fala sobre isso.

Eu a conheço! Com certeza vai recitar nessa Taverna [hoje mais tarde], né?

Eu não pensei, não, mas agora... (risos) Tem algumas outras que eu gosto, mas eu acho que essa é o grito de foda-se e... aquela coisa da idéia que ficou martelando, martelando... e quando ela saiu, já estava pronta. Nela eu não mexi nenhuma palavra... foi! Tenho outras, mais ou menos na mesma linha, mas essa foi uma das primeiras... tem também o “Poema Mudo” que eu gosto bastante também, inclusive eu ouvi de uma pessoa que disse que isso é muito sério, tipo se eu estava falando sério mesmo quando eu escrevi isso. Sim, no caso do “Poema Mudo” eu quis dizer exatamente o que está escrito ali.

Está no seu blog, né? Qual o endereço de seu blog?

É www. eduardohmartins ... er...

Seria blogspot? (risos) Esse café, hein!

Esse café está maravilhoso! (risos)

E pra Taverna do dia 12? [que aconteceu na última sexta] O que você está preparando para recitar? Algo que está em seu blog, já que falamos de seu blog com a pausa do café? (risos)

Eu tenho alguns poemas novos que eu vou recitar. E não esperem nada muito bonitinho... porque como eu já disse antes eu estou cansado de muita hipocrisia, muito tapinha nas costas, muitas caras-e-bocas, vai ter um que a intenção não é querer chocar, mas deixa no ar uma mensagem em relação a pose! Postura! Muito sorriso, muito... eu tenho também um poema que fala sobre as expressões de um sorriso. Nem sempre são os melhores. É sobre alguém que substitui algumas respostas por um sorriso. Nossa, esse deve ter uns cinco anos e continua sendo atual. A coisa do looping que você falou antes. Na verdade, eu creio que seja um desabafo em relação a tudo isso. Só não esperem coisinhas bonitinhas, é por aí.

Mas quem espera coisinhas bonitinhas na Taverna? Então, Eduardo, quero dizer que foi um prazer em receber você aqui na minha casa... são exatamente 1h da manhã, estamos entrando no dia de Finados... enfim, baterista, poeta, fotógrafo, designer...

Designer gráfico! Senão daqui há pouco tem gente me chamando para fazer decoração! (risos)

Tá certo! E também um pensador, um tavernista que carrega e tremula alto a nossa bandeira! Para finalizar, vamos a minha pergunta clichê, o que você gostaria de falar para o pessoal que vai estar na próxima Taverna [como já dito, o evento ocorreu na última sexta, dia 12/11]?

Bem, a Taverna é feita de público, de poetas, músicos e de admiradores, enfim, eu acho que já que a pessoa está ali, que não vá para conversar, que preste atenção no artista que está ali. Tanto no músico, quanto no poeta, porque a pessoa que está ali na frente está ali para se expor de alguma forma, ela precisa. Se a pessoa está se expondo, eu acho que o público poderia considerar mais isso. É isso, que as pessoas continuem indo, não só para beber vinho, mas para prestar atenção. As vezes você vê um quadro na parede e vê que as pessoas passam umas quinze vezes por ele e não olham. Lembrando que tem um artista plástico que pintou aquilo, que teve uma pessoa que se preocupou com a idealização daquele quadro. Não custa prestar atenção. Até porque cultura não é desperdício, não é perda de tempo, e a arte é sublime. Você perder uns cinco minutos conversando com o artista para saber porque ele pintou o quadro ou escreveu aquela poesia. Isso não é desperdício, nunca!

Evoé, meu caro!

Evoé!



Conheçam o trabalho do poeta no blog:

http://eduardohmartins.blogspot.com/

Entevista: Romulo Narducci.

Fotos: Beatriz Peixoto, Romulo Narducci e Eduardo H Martins.

Edição feita ao som de Smashing Pumpikins (Adore), Symbolic Immortality ( Yogan e Perpetualis Sacrificalis) e Moonspell (Darkness and Hopes) acompanhado de uma garrafa de vinho alemão Josepf Drathen, tipo "Liebfraumilch" (presente de Rod Britto na Taverna).

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3 comentários:

Carlos Orfeu disse...

Ótima entrevista,belos pensamentos
de um grande nephelim.

a_rosa disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
a_rosa disse...

parabéns pela entrevista. pena que eu perdi última noite na taverna =/


vou lá no blog dele fuxicar :)