Naquela época, a faculdade abrigava jovens de diversas partes do Brasil, relatos históricos revelam que os estudantes implementaram novas modas no vestuário e vitalizaram a região com novos hábitos como o de se reunirem nas ruas para se divertirem, criando a necessidade do surgimento de tavernas e livrarias,inaugurando assim o sentimento mais fortalecido de comunidade. Esportes como as caçadas e a natação, também foram incluídos nos novos hábitos, sem falar das bebidas, as novas maneiras de flertar e as orgias, que escandalizavam a comunidade patriarcal.
Muitas lendas cercam o que poderia ter sido a Sociedade Epicuréia, algumas relatam cultos dionisíacos, recitais fúnebres, invocações macabras, orgias intermináveis, uso exacerbado de álcool, entre outras polêmicas, são estes alguns dos relatos que cercavam a casa onde se reuniam diversos poetas e promissores escritores de nossa literatura na época. A casa era conhecida por Chácara dos Ingleses, porque seu primeiro morador foi o inglês John Rademacker, e ficava na Rua da Glória (hoje Praça Almeida Júnior), defronte a um cemitério de indigentes e de escravos.
Rua da Glória
Seus membros tinham a peculiaridade de chamar-se uns aos outros pelos nomes de personagens das obras de Lord Byron em suas reuniões fechadas, pois o intuito era colocar em prática as extravagentes fantasias do mundo literário do poeta inglês. Além de tudo, realizavam ainda manifestações artistas macabras pelas ruas de São Paulo e reuniões cerimoniais nos cemitérios paulistanos.
A CASA DO “CAPIROTO” (LENDAS OU VERDADES?)
Como já dito antes, as sessões realizadas na Chácara dos Ingleses e em outras repúblicas da periferia pelos membros da Sociedade Epicuréia abalaram e muito a pacata São Paulo da época. O historiador Couto de Magalhães conta que "Bernardo, Azevedo e (Aureliano) Lessa dispunham de tudo para o cerimonial da orgia. Tapetes, indumentária, caveiras, ossos humanos, trípodes, caçoilas, armações funerárias etc. Na Epicuréia dominavam reflexos de satanismo". O historiador implementou que as mulheres não participavam das sessões. "Mulheres só eram permitidas nas libertinagens sem cerimonial", explica Magalhães.
Bernardo Guimarães exagerava no álcool, principalmente o éter. "Ficou semanas inteiras sepulto, com os comparsas, nos comodos, bebendo sem parar. Registraram-se cenas indecorosas, impossíveis de serem narradas. E houve desregramentos piores, de horrorizar. As sessões terminavam quando não havia mais bebidas", relata Magalhães. O cerimonial obedecia algumas das orientações byronianas. Na casa eram soltos gatos pretos, sapos, corujas, morcegos, urubus, cobras, lagartixas e tudo quanto é bicho do folclore do horror. Entre uma declamação e outra de poemas, o vinho era servido em caveiras roubadas do cemitério de indigentes. Havia brindes a Baco, a Epicuro e a Sileno. Do lado de fora, sem entender nada e com medo, ficavam os escravos dos estudantes.
Em algumas sessões, havia encenações d'A Divina Comédia. Em outras, enquanto alguns estudantes corriam pela casa imitando animais, Bernardo cantava canções macabras e Álvares de Azevedo lia contos de horror.
Os excessos alcóolicos dessas farras prejudicaram a saúde de muitos estudantes, levando-os à morte precoce. Esse não foi o caso de Bernardo Guimarães, que morreu aos 69 anos.
Verdade? Boatos? Bem, falácia ou não, esses fatores contribuíram para que fosse criado um caráter profano e de má reputação ao redor da Sociedade Epicuréia e seus membros. Porém, os fatos combinam-se com os mitos e a veracidade das informações fica comprometida ao analisarmos alguns fatores, como por exemplo:
Álvares de Azevedo possuía uma saúde frágil e uma personalidade introspectiva manifestada em seus versos. Além disso, o estudioso e dedicado jovem, teve uma importante parcela de sua obra construída durante o período que cursou a Faculdade de Direito. Portanto, é espantoso crer que o poeta promoveria e participaria das farras dionisíacas como as que compõem a reputação da Sociedade Epicuréia, e esmaecem no véu dos tempos. Porém, já não se pode dizer o mesmo de Bernardo Guimarães. Ferreira de Resende comenta que "Bernardo, portanto, nem estudava nem acordava para ir a aula; e ele teria com toda a certeza perdido o ano se não fosse um velho bedel da Academia, que se chamava Mendonça, o ajudasse ele não se formaria”. Bernardo definia a vida com uma gargalhada...
Lenda ou não, o fato que importa é que a Sociedade Epicuréia é considerada por alguns, um grupo ou um período, onde se consolidou uma intensa e virtuosa produção literária estudantil. Até hoje, não houve um fenômeno de grandiosidade semelhante; e provavelmente não haverá. Isto porque a capacidade daqueles jovens poetas é incontestável, e o romantismo que circundava São Paulo daqueles tempos, jamais voltará a cena.
O crítico literário Antônio Cândido, no Estado de S. Paulo de 25.01.1954, assim sintetizou a Sociedade Epicuréia: "Ponto de encontro entre a literatura e a vida, onde os jovens procuravam dar realidade às imaginações românticas".
Registros relatam que entre os participantes mais ilustres da Sociedade Epicuréia estavam: Álvares de Azevedo, Andrada e Silva, Aureliano Lessa, Bernardo Guimarães, Bittencourt Sampaio, Castro Alves, Fagundes Varela, João Cardoso de Meneses e Sousa (Barão de Paranapiacaba), M.S. Mafra, Múcio Teixeira, Pires de Almeida, Teodomiro Alves Pereira e Zoroastro Pamplona, entre outros.
PARA ENTENDER:
EPICURO
Epicuro de Samos foi um filósofo grego do período helenístico. Seu pensamento foi muito difundido e numerosos centros epicuristas se desenvolveram na Jônia, no Egito e, a partir do século I, em Roma, onde Lucrécio foi seu maior divulgador.
Epicuro nasceu na Ilha de Samos, em 341 a.C., mas ainda muito jovem partiu para Téos, na costa da Ásia Menor. Quando criança estudou com o platonista Pânfilo por quatro anos e era considerado um dos melhores alunos. Certa vez ao ouvir a frase de Hesíodo, todas as coisas vieram do caos, ele perguntou: e o caos veio de que? Retornou para a terra natal em 323 a.C.. Sofria de cálculo renal, o que contribuiu para que tivesse uma vida marcada pela dor.
O propósito da filosofia para Epicuro era atingir a felicidade, estado caracterizado pela aponia, a ausência de dor (física) e ataraxia ou imperturbabilidade da alma. Ele buscou na natureza as balizas para o seu pensamento: o homem, a exemplo dos animais, busca afastar-se da dor e aproximar-se do prazer. É uma doutrina muitas vezes confundida com o hedonismo. O prazer de que fala Epicuro é o prazer do sábio, entendido como quietude da mente e o domínio sobre as emoções e, portanto, sobre si mesmo. É o prazer da justa-medida e não dos excessos. É a própria Natureza que nos informa que o prazer é um bem. Este prazer, no entanto, apenas satisfaz uma necessidade ou aquieta a dor. A Natureza conduz-nos a uma vida simples. O único prazer é o prazer do corpo e o que se chama de prazer do espírito é apenas lembrança dos prazeres do corpo. O mais alto prazer reside no que chamamos de saúde. Entre os prazeres, Epicuro elege a amizade. Por isso o convívio entre os estudiosos de sua doutrina era tão importante a ponto de viverem em uma comunidade, o "Jardim". Ali, os amigos poderiam se dedicar à filosofia, cuja função principal é libertar o homem para uma vida melhor.
Pesquisado em vários sites da internet.
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2 comentários:
apenas passando...
gostei mt das vossas propostas;) vim ca parar depois de pesquisar outra sylvia. a plath.
beijos
S.
Ora, sempre um grande prazer receber irmãos lusófonos aqui. Fique à vontade, querida, e volte sempre.
Se quiseres, podes participar do blog coletivo de poesias da Taverna, já viste? http://evoetaverna.blogspot.com
Evoé!
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