segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Uma Noite na Taverna homenageia Chico Buarque

Pela segunda vez, o evento de artes Uma Noite na Taverna se orgulha de homenagear um dos maiores artistas brasileiros de nossa atualidade: Chico Buarque de Holanda. No ano de 2005, em março, os poetas Rodrigo Santos e Romulo Narducci fizeram um recital sobre o universo feminino de Chico Buarque, em homanagem ao dia Internacional da Mulher, interpretando letras de música em que o artista utiliza-se do eu narrador em 1º pessoa como mulher - temos como exemplo "Ana de Amsterdan" -, e outras músicas em que Chico simplesmente se coloca como narrador oniscinente, porém a contar a história de uma mulher, como é o caso de "Geni e o Zepelin", por exemplo.
Nessa edição do dia 19 de fevereiro, na semana posterior ao carnaval, os poetas tavernistas irão buscar letras ou textos de Chico Buarque que não são muito conhecidos do grande público, porém não deixarão de recitar alguns clássicos, como muitos esperam.
O Uma Noite na Taverna ainda receberá os poetas convidados Iverson Carneiro, Fabrício Alves e Andréa de Azevedo. Ainda teremos Contação de História do poeta e ator André Correia, que fará uma leitura do conto do tavernista Rodrigo Santos, de nome "Entre Putas, Pastores e Vampiros" e a esquete teatral "Devaneio", de Fernando Porto, com interpretação do mesmo.
"Vez por outra Deus força a mão e cria um talento único.Quando a este talento se unem a inteligência e a sensibilidade, mesclando o artista ao intelectual, a coragem ao humor e a cultura aos olhos verdes, 'aí, então, é preciso terr cuidado', como diria Vinícius, porque o efeito é quase insuportável. Por isso é que já tem criança dizendo: 'Mamãe, quando eu crescer, quero ser Chico Buarque'." (Jô Soares)
BIOGRAFIA

Francisco Buarque de Hollanda nasceu no dia 19 de junho de 1944, na Maternidade São Sebastião, no Largo do Machado, Rio de Janeiro. Foi o quarto dos sete filhos do historiador e sociólogo Sérgio Buarque de Hollanda e da pianista amadora Maria Amélia Cesário Alvim.

Aos 18 anos começou a expressar grande interesse por literatura e leu clássicos da literatura alemã, francesa e russa, e só se interessaria em literatura brasileira após a crítica de um colega de classe por ele só ler obras estrangeiras. Após isso, é repreendido em seu colégio por andar com um volume de Macunaíma, de Mário de Andrade, que havia retirado da estante de seu pai.

A música já havia entrado na vida de Chico Buarque desde a infância. Quando criança se interessava em recortes de jornais com as fotos de estrelas do rádio e já arriscava seus primeiros versos com suas irmãs. Quando em 1954, sua família morou em Roma, na Itália, sua casa era freqüentada por inúmeras personalidades da cultura brasileira, como o poeta Vinícius de Moraes, que mais tarde se tornaria seu amigo e parceiro.

A sua relação com a música viria a se estreitar em 1959, quando ouvia Noel Rosa, Ismael Silva, Ataulfo Alves, e também ouvia canções estrangeiras como as músicas do belga Jacques Brel e os norte-americanos Elvis Presley e o grupo The Platters. Porém, o grande divisor de águas na vida do menino Chico Buarque foi quando este teve contato com o disco Chega de Saudade, de João Gilberto. Seu sonho, na época, "era cantar como João Gilberto, fazer música como Tom Jobim e letra como Vinícius de Moraes". E Chico começou a fazer música. No mesmo ano fez sua primeira composição: Canção dos Olhos.

Em 1964 começa a se apresentar nos palcos. Sua primeira apresentação foi em um show, no Colégio Santa Cruz com a música Tem mais Samba, feita sob encomenda para o musical Balanço de Orfeu - e que Chico considera até a presente data como o marco inicial de sua carreira. Apresentações como essa revelaram novos talentos que começavam a surgir na Música Popular Brasileira, dando também o boom inicial para a era dos festivais.


O show mais importante na época aconteceu no teatro Paramount, em São Paulo, e foi batizado como O Fino da Bossa, apresentado pela cantora Elis Regina. Além de Chico Buarque, apresentaram-se Alaíde Costa, Zimbo Trio, Oscar Castro Neves, Jorge Ben, Nara Leão, Sérgio Mendes e Os Cariocas.

Após, Chico Buarque apresentou-se no auditório do Colégio Rio Branco, com sua música Marcha para Um Dia de Sol, no show Primeira Audição, que foi importante para abrir caminho para os músicos que surgiam na nova geração. Em 1965, Chico Buarque lançou o seu primeiro compacto Pedro Pedreiro e Sonho de Um Carnaval, sua primeira música inscrita em um festival, que acontecia na TV Excelsior. A canção defendida e depois gravada por Geraldo Vandré não se classificou. O primeiro lugar ficou para a música Arrastão, de Edu Lobo e Vinicius de Moraes, interpretada por Elis Regina. No mesmo ano conhece Caetano Veloso e Gilberto Gil, que seriam os percusores do Tropicalismo.


Em 1966, a música A Banda dividiu o primeiro lugar no II Festival de Música Popular Brasileira, promovido pela Record, com a música Disparada, de Théo de Barros e Geraldo Vandré.

A composição foi sucesso imediato, vendendo mais de cem mil cópias em uma semana. Saudada com uma crônica por ninguém menos que o poeta Carlos Drummond de Andrade, canção A Banda é imediatamente traduzida para vários idiomas (desde 1978 integra o repertório da Band of Irish Guards, uma das corporações musicais que se apresentam durante a troca de guarda do Palácio de Buckingham, na Inglaterra).

Após mudar-se para o Rio de janeiro, Chico lançou seu primeiro LP pela RGE, Chico Buarque de Hollanda. Em seguida, após o lançamento de seu long play já começou a ter problemas com a censura. A música Tamandaré, incluída no repertório do show Meu refrão (com o grupo MPB-4 e Odette Lara), é proibida após seis meses em cartaz, por conter frases consideradas ofensivas ao patrono da Marinha. No mesmo ano, ainda, realiza seu primeiro trabalho para o público infantil compondo as músicas para a peça O patinho Feio.

Mesmo morando no Rio, continua mantendo vínculos com São Paulo, onde passa a gravar, ao lado de Nara Leão, o programa musical Pra Ver a Banda Passar, da TV Record. Carolina fica em terceiro lugar no II FIC - Festival Internacional da Canção - promovido pela Rede Globo. Roda Viva também se classifica em terceiro no III Festival da MPB, promovido pela TV Record.

Em 1968 vence o Festival Internacional da Canção, com Sabiá, feita em parceria com Tom Jobim, com quem compõe, no mesmo ano, Pois É e Retrato Em Branco e Preto. No mesmo ano partcipa da "Passeata dos cem mil", que reuniu estudantes, artistas e intelectuais em um protesto contra a ditadura militar. Com isso, dias após a decretação do Ato Institucional nº 5, de 13 de dezembro, Chico Buarque é detido em sua própria casa sendo levado ao Ministério do Exército para prestar depoimento sobre a sua participação na passeata dos cem mil e sobre as cenas exibidas na peça Roda viva, que fora publicada naquele ano, consideradas subversivas.

Em janeiro de 1969 deixa o Brasil e se apresenta na grande Feira da Indústria Fonográfica, em Cannes, na França. Parte depois para um auto-exílio na Itália. Seu retorno ao Brasil, em 1970, é marcado pelo "barulho" organizado por recomendação de Vinícius de Moraes: muita gente o aguardava no aeroporto, havia manifestações de amigos, entrevistas à imprensa e já um show marcado na boate Sucata para lançar seu quarto LP, um disco de transição, gravado em circunstâncias complicadas.

Chico Buarque afastou-se do samba tradicional, variando mais a sua linha de composições, revelando novas influências como a toada, em Rosa dos Ventos, até o iê-iê-iê italiano em Cara a Cara. A mudança se reflete também nas letras, nas quais ele parece desvencilhar-se explicitamente do lirismo nostálgico e descompromissado que antes parecia identificá-lo.

No mesmo ano compõe a polêmica canção Apesar de Você, uma resposta crítica ao regime ditatorial no qual o país vivia. Surpreendentemente, a música passou incólume pela censura e se tornou uma espécie de hino da resistência à ditadura. Porém, depois de vender cerca de 100 mil cópias, a canção foi censurada. O disco foi confiscado das lojas e até a fabrica da gravadora foi fechada.

Para o público, não havia dúvidas: o "você" da música era o general Emílio Garrastazu Médici, então presidente da República. Ao ser interrogado sobre quem era o "você" da canção, Chico Buarque respondeu que tratava-se de uma mulher muito autoritária.

No início do ano de 1971, lançou uma de suas obras-primas, o LP Construção. Em abril teve o seu samba Bolsa de Amores vetado integralmente pela censura, que fora composto como uma brincadeira para Mário Reis, um aplicador contumaz das Bolsas de Valores. A alegação da ditadura era de que a letra era ofensiva à mulher brasileira. O LP saiu com uma faixa a menos do que as doze habituais. No mesmo ano rompeu com a TV Globo e cancelou a sua inscrição, junto com outros convidados, no VI Festival Internacional da Canção, em sinal de protesto contra a censura e a tentativa de se utilizar o festival como veículo de propaganda a serviço da ditadura.

Em 1972, compôs quase todas as músicas do filme Quando O Carnaval Chegar. Voltou a fazer músicas para mais dois filmes de Cacá Diegues: Joanna, a Francesa, em 1973, e Bye Bye, Brasil, de 1979. Em novembro do mesmo ano, realizou junto de Caetano Veloso o show que entraria para a história da música brasileira, no Teatro Castro Alves, Salvador.

Em 1973, a música Cálice, feita em parceria com Gilberto Gil, é proibida pela própria Phonogram. Com medo de represálias, a gravadora desliga os microfones do palco e impede Chico e Gil até mesmo de tocarem a melodia da música. Nesse mesmo ano, Chico Buarque publicou a peça Calabar, ou O Elogio da Traição, com Ruy Guerra, cuja ação se passa no Brasil colônia, onde é discutida a posição de Domingos Fernandes Calabar que preferiu o invasor holandês ao colonizador português. A peça foi proibida de imediato pela censura, sendo somente seria liberada muito anos depois.


Em 1974, Chico Buarque publicou sua primeira novela, Fazenda Modelo. Em 1975, Chico Buarque resistiu às tentativas dos que queriam transformá-lo em um símbolo da luta política contra o regime militar.

Em 1976, compôs O Que Será, para o filme Dona Flor e Seus Dois Maridos, de Bruno Barreto. Foi lançado nesse mesmo ano o disco Meus Caros Amigos. Em 1978, estreiou a peça Ópera do Malandro. No mesmo ano, Chico ganhou o Prêmio Molière como melhor autor teatral pelo seu trabalho em Gota d´Água - que em protesto contra a censura, que proibira peças de vários autores, não compareceu à cerimônia de entrega dos prêmios -, lançou o LP Chico Buarque 1978, e ainda o seu primeiro livro infantil, Chapeuzinho Amarelo, ilustrado por Donatella Berlendis, além do álbum duplo Ópera do Malandro.

Em 1980, a pedido da bailarina Marilena Ansaldi, fez as músicas para a peça Geni. Participou nesse ano da festa do Avante, órgão oficial do Partido Comunista Português, e do projeto Kalunga, em Angola, onde se apresentou, com mais 64 artistas brasileiros, por todo o país. A renda dos shows foi destinada à construção de um hospital. Lançou o LP Vida, que traz, entre outras, a música Eu Te Amo, feita especialmente para o filme homônimo de Arnaldo Jabor. Lançou ainda os discos Almanaque e Saltimbancos Trapalhões. Em 1982, em parceria com Edu Lobo, compõe as canções para o balé O Grande Circo Místico, que seria lançado em disco no ano seguinte.


Em 1983, Chico compôs o samba Vai Passar, que no ano seguinte se tornaria uma referência na campanha pelas Diretas Já, da qual participou ativamente. Lançou o disco Chico Buarque 1984. Em 1986, de volta à Rede Globo, comandou ao lado de Caetano Veloso, o programa de televisão "Chico e Caetano", que permaneceu por sete meses na programação da emissora. Em 1987, lançou o disco Francisco e voltou aos palcos dirigido por Naum Alves de Souza.

Em 1989, compõe Trapaças, para o filme Amor Vagabundo, de Hugo Carvana, onde faz uma ponta interpretando sua própria criação, Julinho da Adelaide. A editora Companhia das Letras publica o songbook Chico Buarque Letra e Música, com prefácios de Tom Jobim e Eric Nepomuceno, e o texto Gol de letras, de Humberto Werneck. Lançou ainda o disco Chico Buarque.

Em 1992, lançou o seu primeiro romance, Estorvo, publicado pela Companhia das Letras, com o qual ganhou o Prêmio Jabuti de Literatura e vendeu 7.500 exemplares em apenas três dias. Em 1995, escreveu e lançou o seu segundo romance, Benjamim, recebendo críticas desfavoráveis de parte da crítica literária, não obstante o sucesso de vendas e os elogios de grandes nomes da literatura.

Em 1997, participou do disco Chico Buarque de Mangueira, com regravações de clássicos dos compositores da escola e com duas canções inéditas (Levantados do Chão e Assentamento) e, em 1998, foi o homenageado no desfile em que a Mangueira sagrou-se campeã do carnaval de 1998. De Paris, escreveu artigos para os jornais O Estado de S. Paulo e O Globo durante a Copa do Mundo. O CD As Cidades, com sete canções inéditas e quatro regravações, chegou às lojas cinco anos depois de Paratodos. Foi o seu primeiro trabalho lançado na Internet.

Em 1999, durante um ano percorreu o Brasil em turnê com o show As Cidades. Seguindo em turnê pelo exterior, apresentando-se na Argentina, Uruguai, Portugal, França, Inglaterra e Itália. O espetáculo foi um sucesso absoluto de público e crítica. Em 2000, o filme Estorvo, de Ruy Guerra, adaptado da obra literária de Chico, concorreu à Palma de Ouro do 53º Festival Internacional de Cinema de Cannes. O filme é uma co-produção de Brasil-Cuba-Portugal.

Em 2002, lançou o CD Duetos, que reúne 14 das mais de 200 participações de Chico cantando com outros artistas. Neste CD participam: Elza Soares, Mestre Marçal, Ana Belén, Nara Leão, Zeca Pagodinho, Sergio Endrigo, Nana Caymmi, Johnny Alf, Pablo Milanés, João do Vale, Dionne Warwick, Miúcha, Tom Jobim e Elba Ramalho.

Em 2003, é lançado o Filme Benjamim, dirigido por Monique Gardenberg, e que tem no elenco Paulo José, Cléo Pires, Danton Mello e Chico Diaz. A Cia. das Letras publica Budapesta, seu terceiro romance. O livro fica na lista de mais vendidos por diversos meses e, na seqüência é traduzido para mais de 6 idiomas. Sai ainda, o documentário em DVD Chico ou O País da Delicadeza Perdida, do selo Videofilmes Produções Artisticas, com direção de Walter Salles e Nelson Motta.

Em 2009, Chico Buarque lançou o seu atual romance, Leite Derramado (http://www.leitederramado.com.br/wordpress/?p=47), pela Cia das Letras.


http://www.chicobuarque.com.br/


Por Romulo Narducci, pesquisado em vários sites na Internet e no site oficial do cantor.

Um comentário:

George Luis disse...

Estarei aí amanhã! Quem sabe um dia terei a oportunidade de ler um poesia minha com vocês! Abraços.