quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Uma Noite na Taverna com os Poetas do Samba

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Nessa sexta-feira, 15/02, a partir das 19 horas, no SESC São Gonçalo, o Uma Noite na Taverna, ainda sob os resquícios da festa de Momo, irá homenagear os poetas do samba.


Os poetas tavernistas irão recitar alguns dos autores mais importantes (ou interessantes) do samba. O intuito é mostrar, como já foi feito em outras edições do Uma Noite na Taverna, a importância do conteúdo da poesia dentro da música.

O evento irá contar pela primeira vez com a participação de duas poetas, Daniella Dell Ossi e Ananita Rebouças, e ainda com o bardo romântico Carlos Orfeu (que já recitou em várias edições do evento). A música ficará por conta de Leon Costa, excelente compositor de São Gonçalo, mentor e integrante da  banda Quebra-Telhas, que irá apresentar ao público o seu trabalho autoral. E ainda, exposição de artes plásticas de Beatriz Peixoto.  

E O SAMBA, COMO FOI QUE PINTOU?*

*(trecho de A História do Samba de Graziela Salomão)

"O samba, como conhecemos atualmente, tem origem afro-baiana, temperado com misturas cariocas. Nasceu da influência de ritmos africanos, adaptados para a realidade dos escravos brasileiros e, ao longo do tempo, sofreu inúmeras transformações de caráter social, econômico e musical até atingir as características conhecidas hoje.

O gênero, descendente do lundu (canto e dança populares no Brasil do século XVIII), começou como dança de roda originada em Angola e trazida pelos escravos, principalmente para a região da Bahia. Também conhecido por umbigada ou batuque, consistia em um dançarino no centro de uma roda, que dançava ao som de palmas, coro e objetos de percussão e dava uma ''umbigada'' em outro companheiro da roda, convidando-o a entrar no meio do círculo.

Com a transferência, no meio do século XIX, da mão-de-obra escrava da Bahia para o Vale do Paraíba e, logo após, o declínio da produção de café e a abolição da escravatura, os negros deslocaram-se em direção a capital do país, Rio de Janeiro.

Instalados nos bairros cariocas de Gamboa e Saúde, eles dariam início à divulgação dos ritmos africanos na Corte. Eram nas casas das tias baianas, como Amélia, Ciata e Prisciliana, que aconteciam as festas de terreiro, as umbigadas e as marcações de capoeira ao som de batuques e pandeiros. Essas manifestações culturais propiciariam, conseqüentemente, a incorporação de características de outros gêneros cultivados na cidade, como a polca, o maxixe e o xote. O samba carioca urbano ganha a cara e os ritmos conhecidos (...)"


O PRIMEIRO SAMBA GRAVADO E A SUA EVOLUÇÃO

Ernesto Santos, o Donga (autor do primeiro samba, "Pelo Telefone")

Um marco dentro da história moderna e urbana do samba ocorreu em 1917, no próprio Rio de Janeiro, com a gravação em disco de "Pelo Telefone", considerado o primeiro samba a ser gravado na Brasil (segundo os registros da Biblioteca Nacional). A canção tem a autoria reivindicada por Ernesto dos Santos, mais conhecido como Donga, com co-autoria atribuída a Mauro de Almeida, um então conhecido cronista carnavalesco. Na verdade, "Pelo Telefone" era uma criação coletiva de músicos que participavam das festas da casa de tia Ciata, mas acabou registrada por Donga e Almeida na Biblioteca Nacional"Pelo Telefone" foi a primeira composição a alcançar sucesso com a marca de samba e contribuiria para a divulgação e popularização do gênero. A partir daquele momento, esse samba urbano carioca começou a ser difundido pelo país, inicialmente associado ao carnaval e posteriormente adquirindo um lugar próprio no mercado musical. Surgiram muitos compositores como Heitor dos Prazeres, João da Baiana, Pixinguinha e Sinhô, mas os sambas destes compositores eram amaxixados, conhecidos como sambas-maxixe

Embora outras gravações tenham sido registradas como samba antes de "Pelo Telefone", foi esta composição assinada pela dupla Donga/Mauro de Almeida que é considerada como marco fundador do gênero. Ainda assim, a canção tem autoria discutida e sua proximidade com o maxixe fez com que fosse designada por fim como samba-maxixe. Esta vertente era influenciada pela dança maxixe e tocada basicamente ao piano - diferentemente do samba carioca tocado nos morros - e teve como expoente o compositor Sinhô, auto-intitulado "o rei do samba", que com outros pioneiros como Heitor dos Prazeres e Caninha, estabeleceriam os primeiros fundamentos do gênero musical.

Heitor dos Prazeres, Rio de Janeiro RJ , 1956 Foto Otto Stupakoff
Os contornos modernos desse samba urbano carioca viriam somente no final da década de 1920, a partir de inovações em duas frentes: com um grupo de compositores dos blocos carnavalescos dos bairros do Estácio de Sá e Osvaldo Cruz e com compositores dos morros da cidade como em Mangueira, Salgueiro e São Carlos. Não por acaso, identifica-se esse formato de samba como "genuíno" ou "de raiz". A medida que o samba no Rio de Janeiro consolidava-se como uma expressão musical urbana e moderna, ele passou a ser tocado em larga escala nas rádios, espalhando-se pelos morros cariocas e bairros da zona sul do Rio de Janeiro. Inicialmente criminalizado e visto com preconceito, por suas origens negras, o samba conquistaria o público de classe média também.

O samba moderno urbano surgido a partir do início do século XX tem ritmo basicamente 2/4 e andamento variado, com aproveitamento consciente das possibilidades dos estribilhos cantados ao som de palmas e ritmo batucado, e aos quais seriam acrescentados uma ou mais partes, ou estâncias, de versos declamatórios. Tradicionalmente, esse samba é tocado por instrumentos de corda (cavaquinho e vários tipos de violão) e variados instrumentos de percussão, como o pandeiro, o surdo e o tamborim. Por influência das orquestras norte-americanas em voga a partir da Segunda Guerra Mundial, e pelo impacto cultural da música dos EUA no pós-guerra, passaram a ser utilizados também instrumentos como trombones e trompetes, e, por influência do choro, flauta e clarineta.

Com o passar dos anos, surgiram mais vertentes no seio desse samba "nacional" urbano carioca, que ganharam denominações próprias, como o samba de breque, samba-canção, a bossa nova, o samba-rock, o pagode, entre outras.

Pixinguinha em ação.

Dentro do processo de modernização do samba urbano carioca, surgia também o futuramente conhecido Samba de partido-alto. Com suas origens nas umbigadas africanas e é a forma de samba que mais se aproxima da origem do batuque angolano, do Congo e regiões próximas. O partido-alto costuma ser dividido em duas partes: o refrão e os versos.

A primeira parte é o núcleo do qual correm soltos os versos improvisados. Esta cantoria é a arte de criar versos, em geral de improviso e constituído de peças da tradição oral, e cantá-los sobre uma linha melódica preexistente ou também improvisada, praticada, em diversas modalidades. Por ter uma essência baseada na improvisação, o samba de partido-alto passaria a ser muito cantado principalmente nos chamados "pagodes", habituais reuniões festivas, regadas a música, comida e bebida, e mais adiante nos terreiros das futuras escolas de samba cariocas.

O grande propulsor de mudanças dentro do samba urbano carioca foi o bairro de Estácio de Sá. Foi nesse bairro que se gestaria o novo e definitivo samba urbano carioca, com a chamada "Turma do Estácio" (Formada por alguns compositores entre os quais Alcebíades Barcellos (o Bide), Armando Marçal, Ismael Silva, Nilton Bastos e mais os malandros-sambistas Baiaco, Brancura, Mano Edgar, Mano Rubem), onde surgiria a Deixa Falar, a primeira escola de samba brasileira.

"Turma do Estácio" marcaria a história do samba brasileiro por injetar ao gênero uma cadência mais picotada, que teve endosso de filhos da classe média, como o ex-estudante de direito Ary Barroso e o ex-estudante de medicina Noel Rosa.

Ary Barroso.
As inovações rítmicas dos sambistas da Estácio de Sá foram assimiladas por blocos carnavalescos em  Osvaldo Cruz e também alcançaram os morros da Mangueira, Salgueiro e São Carlos, já que suas rodas de samba eram frequentadas por compositores dos morros cariocas, como Cartola e Gradim (da Mangueira), Canuto (do Salgueiro), Ernani Silva, o Sete (do subúrbio de Ramos), e posteriormente outros futuros bambas como Nelson Cavaquinho, Carlos Cachaça e Geraldo Pereira, Paulo da Portela, Alcides Malandro Histórico, Manacé, Chico Santana e Aniceto do Império Serrano

Acompanhados por um pandeiro, um tamborim, uma cuíca e um surdo, estes compositores terminariam por influenciar e lapidar as características essenciais desse novo samba carioca urbano. Esse samba feito à moda do Estácio de Sá e dos sambistas dos morros cariocas se firmaria como o samba carioca "por excelência", e com o passar do tempo, "de raiz", "autêntico". 


Paulo da Portela, Heitor dos Prazeres, Gilberto Alves, Alcebíades Barcelos (Bide) e  Armando Marçal.
Veja mais sobre a história do samba em:





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quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Evento: 9 Anos de Uma Noite na Taverna

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Fazer poesia não é fácil. Ainda mais um evento de poesia. Hoje, no estado do Rio de Janeiro há uma grande quantidade de manifestações artísticas, eventos multiculturais onde a poesia é o "carro-chefe", cedendo espaço para a música e muitas outras vertentes da arte. Porém, há mais ou menos 10, 15 anos atrás a história era outra. Os eventos de poesia quando existiam eram marginais, não tinham a força nem a atenção da grande mídia. Na zona sul do Rio havia o CEP 20.000, em Niterói o Um Brinde a Poesia, nadando contra a correnteza e de resto, poetas e músicos se reuniam em bares para apresentarem os seus trabalhos.

Foi numa época em que fazer poesia ainda era coisa de gente outsider, cult, ou marginal, num lugar onde há 10 anos não havia um evento de poesia com a periodicidade mensal, ao menos, que nasceu o Uma Noite na Taverna. São Gonçalo é cidade dormitório por natureza errônea, pois possui um grande número de artistas de qualidade: músicos, poetas, artistas plásticos, artesãos, atores e por aí vai. Desacreditada a Taverna deu seu pontapé inicial no restaurante do SESC São Gonçalo com divulgação escassa, quando a internet ainda não fazia o papel que hoje faz, era no corpo a corpo, panfletos fotocopiados e boca a boca. A primeira edição colocou no SESC uma média de 80 pessoas. E daí em diante, durante 9 anos, o evento vem provando, através de todas as dificuldades, que São Gonçalo é sim uma cidade cultural.

No dia 19 de janeiro aconteceu o evento especial de 9 anos de Uma Noite na Taverna, no local onde o evento nasceu e por anos se tornou morada desta, SESC São Gonçalo. Duas bandas (Expresso Lunar e Allen Jerônimo & Rave de Raiz) dividiram o palco da Taverna para apresentações memoráveis, a belíssima exposição da artista plástica Patty Silva e vários poetas celebraram a data especial nos brindando com muita poesia.

Os tavernistas residentes iniciaram o evento, agradeceram ao público que sempre fez perpetuar a vida do Uma Noite na Taverna comparecendo em grande número e falaram da importância da poesia como arte no dia a dia das pessoas. Seu Antônio (da livraria Guttemberg) foi o primeiro a recitar e coroou a Taverna com suas belíssimas interpretações de Fernando Pessoa e José Régio. Depois, muita poesia e música para festejar. Vejam alguns momentos:

Pakkatto, Rodrigo Santos e Romulo Narducci iniciam a festa. (foto: Re Soares)

Seu Antônio da livraria Guttemberg (excelente intérprete dos bardos portugueses)

O público (sempre presente nas edições do evento)

As obras de Patty Silva expostas no aniversário da Taverna (foto: Patty Silva)

O poeta tavernista Ricardo Jordan Sirieira

Público sempre atento aos versos dos poetas.

Antônio Encarnação e sua performance poética.

O poeta Allan Dayvidson e mais arte da Patty Silva no detalhe ao fundo.

A poeta tavernista Luana Vasconcellos.

Alguns poetas recitaram pela primeira vez na Taverna.

Sérgio Trindade.

O casal Aline e Alex, parceiros do Projeto Recicla Leitores.

Gabriel Serrano.

O poeta performático Anísio Aguilar.

A poeta tavernista Sandra Fuentes.

A poeta Lucília Dowslley idealizadora do Um Brinde à Poesia.


Os parceiros da Flupp Pensa também compareceram no aniversário da Taverna. O Festival Literário das UPP's, o qual os poetas tavernistas também fizeram parte, distribuíram 50 livros do projeto no evento.

O fluppenseiro Márcio Januário.

A fluppenseira Maria Inez.

Yolanda Soares da Flupp Pensa, dando o seu recado com a poesia.

Leilane Brito da Flupp Pensa.

O escritor e idealizador da Flupp Pensa Julio Ludemir.
Projeto Recicla Leitores, exemplo de luta pela formação de amantes da literatura.

Allen Jerônimo & Rave de Raiz
O encerramento da festa se deu com a apresentação musical de Allen Jerônimo e Rave de Raiz, excelente banda com influência da música nordestina.

Mais um ano para a Taverna, e que venham outros, porque "Taverna Omnia Vincit"! Evoé!
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