O evento Uma Noite na Taverna, no dia 12 de novembro, fará pela segunda vez (a primeira foi a terceira edição do evento) uma homenagem a uma belíssima poeta que desde sua época exerce influência e encantamento no meio artístico, e isso inclui o nome de vários artistas do movimento tavernista. A poeta portuguesa Florbela Espanca tem em sua obra uma poesia primorosa, com estilo inconfundível. O evento, que já adiantamos, que esse não será o último do ano, visto que em dezembro teremos uma Taverna especial, está novamente em clima de festa. A edição passada, tivemos o lançamento do primeiro romance do poeta tavernista Rodrigo Santos, nessa edição será a hora e a vez do poeta Romulo Narducci, que está lançando o seu segundo livro de poesia Tudo Que Morre é Conmsumado, sendo vendido no local por R$ 20,00. O evento terá a participação dos poetas tavernistas já veteranos Eduardo H Martins e Michelle de Oliveira, e dos estreantes no púlpito da Taverna, Nereis Ribeiro e Elaine Bastos. A música ficará por conta de Leonard & Banda. João Leonard é integrante da banda de rock Anjo Torto e estará apresentando nessa Taverna uma prévia do seu trabalho solo que será lançado até o início de 2011. No local, ainda teremos a exposição de desenhos Caos Organizado, de Davi Vianna. O Uma Noite na Taverna acontecerá no dia 12 de novembro, no SESC São Gonçalo, a partir das 19 horas, com ENTRADA FRANCA.
Filha de Antónia da Conceição Lobo e do republicano João Maria Espanca, a poeta Florbela Espanca nasceu em Vila Viçosa, em 8 de dezembro de 1894, batizada como Flor Bela de Alma da Conceição. O seu pai herdou a profissão de sapateiro, mas passou a trabalhar como antiquário, negociante de cadedais, desenhista, pintor, fotógrafo e cinematografista. João Maria Espanca foi um dos introdutores do “vitascópio de Edison” em Portugal.
João Maria Espanca era casado com Mariana do Carmo Toscano, que não pôde dar-lhe filhos. Porém, João Maria resolveu tê-los – Florbela e Apeles, três anos mais novo – com outra mulher, Antónia da Conceição Lobo, de condição muito humilde. Ambos os irmãos foram registados como filhos ilegítimos. Entretanto, João Maria Espanca criou-os na sua casa, e Mariana passou a ser madrinha de baptismo dos dois. João Maria nunca lhes recusou apoio paternal, mas reconheceu Florbela como a sua filha em cartório só dezoito anos depois da morte dela.
Florbela Espanca começou, em 1899, a frequentar a escola primária em Vila Viçosa, quando compôs os seus primeiros versos assinando como Flor d’Alma da Conceição. Seus primeiros poemas datam dos anos 1903/1904. Os poemas “A Vida e a Morte”, o soneto em redondilha maior em homenagem ao irmão Apeles, e um poema escrito por ocasião do aniversário do pai, são os registros dessa época. Em 1907, Florbela Espanca escreveu o seu primeiro conto chamado “Mamã!” No ano seguinte, faleceu a sua mãe, Antónia, com apenas vinte e nove anos de idade.
Florbela se matriculou no Liceu Masculino André de Gouveia, em Évora, onde permaneceu com os seus estudos até 1912. Foi uma das primeiras mulheres em Portugal a frequentar o curso secundário. Com o advento da Revolução Republicana de 5 de Outubro de 1910, os Espanca mudaram-se para Lisboa. Florbela Espanca teve que interromper os estudos, mas aproveitou o tempo para leituras de escritores como Balzac, Dumas, Camilo Castelo Branco, Guerra Junqueiro e Almeida Garrett.
Em 1913, Florbela casou-se em Évora com Alberto de Jesus Silva Moutinho, seu colega da escola. O casal morou primeiro em Redondo. Porém, em 1915, instalou-se na casa dos Espanca em Évora, por causa das dificuldades financeiras. Em 1916, de volta a Redondo, a poetisa reuniu uma selecção da sua produção poética desde 1915, inaugurando assim o projeto Trocando Olhares. A coletânea de oitenta e cinco poemas e três contos serviu-lhe mais tarde como ponto de partida para suas futuras publicações, na época, as primeiras tentativas de promover as suas poesias falharam.
No mesmo ano, Florbela começou a colaborar como jornalista em Modas & Bordados (suplemento de O Século de Lisboa), em Notícias de Évora e em A Voz Pública, também evorense. A poetisa regressou de novo a esta cidade, em 1917. Completou o 11º ano do Curso Complementar de Letras e matriculou-se na faculdade de Direito da Universidade de Lisboa. Florbela Espanca foi uma das 14 mulheres entre os trezentos e quarenta e sete alunos inscritos.
Um ano mais tarde a escritora sofreu as consequências de um aborto involuntário, que lhe teria infectado os ovários e os pulmões. Mudou-se para Quelfes (Olhão), onde apresentou os primeiros sinais sérios de neurose. Em 1919 saiu finalmente a sua primeira obra, Livro de Mágoas, antologia de poemas. A tiragem (de duzentos exemplares) esgotou-se rapidamente. No mesmo ano, sendo ainda casada, Florbela passou a se envolver com António José Marques Guimarães, alferes de Artilharia da Guarda Republicana. Em meados do ano de 1920, abandonou os estudos na faculdade do Direito. No ano seguinte, divorciou-se de Moutinho para casar-se com o seu amante. O casal passou, então, a residir no Porto, mas, no ano seguinte, transferiu-se para Lisboa, onde Guimarães se tornou chefe de gabinete do Ministro do Exército.
Em 1922, a 1 de Agosto, a recém fundada Seara Nova publicou o seu soneto “Prince charmant...”, dedicado a Raul Proença. Em Janeiro de 1923, veio a lume a sua segunda coletânea de sonetos, Livro de Sóror Saudade, edição paga pelo pai da poetisa. Para sobreviver, Florbela começou a dar aulas particulares de português.
Em 1925, após mais um aborto, divorciou-se pela segunda vez. Ainda em 1925, a poeta casou-se com o médico Mário Pereira Lage, que conhecia desde 1921 e com quem mantinha um romance desde 1924. O casamento aconteceu em Matosinhos, no Distrito do Porto, onde o casal passou a morar a partir de 1926. Em 1927, a autora principiou a sua colaboração no jornal D. Nuno de Vila Viçosa, dirigido por José Emídio Amaro. Naquele tempo não encontrava editor para a coletânea Charneca em Flor. Preparava também um volume de contos, provavelmente, O Dominó Preto, publicado postumamente apenas em 1982. Começou a traduzir romances para as editoras Civilização e Figueirinhas do Porto.
No mesmo ano, Apeles, o irmão de Florbela, faleceu num trágico acidente de avião. A sua morte foi para a poeta realmente muito dolorosa. Em homenagem ao seu irmão, Florbela Espanca escreveu o conjunto de contos de As Máscaras do Destino, volume publicado postumamente em 1931. Entretanto, em meio a crise de doença mental, tentou o suicídio pela primeira vez, em 1928.
Em 1930, Florbela começou a escrever o seu Diário do Último Ano, pubicado só em 1981. No dia 18 de Junho principiou a correspondência com Guido Battelli, professor italiano, visitante na Universidade de Coimbra, responsável pela publicação de Carneca em Flor, em 1931. Na época, a poetisa colaborou também no Portugal Feminino de Lisboa, e na revista Civilização e no Primeiro de Janeiro, ambos do Porto.
Florbela tentou o suicídio por duas vezes mais, em Outubro e Novembro de 1930, na véspera da publicação da sua obra-prima, Charneca em Flor. Após o diagnóstico de um edema pulmonar, a poeta perdeu o resto da vontade de viver. Não resistiu à terceira tentativa do suicídio. Faleceu em Matosinhos, no dia do seu 36º aniversário, em 8 de Dezembro de 1930. A causa da morte foi a sobredose de barbitúricos.
A poeta teria deixado uma carta confidencial com as suas últimas disposições, entre elas, o pedido de colocar no seu caixão os restos do avião pilotado por seu irmão Apeles na hora do acidente. O corpo dela jaz, desde 17 de maio de 1964, no cemitério de Vila Viçosa, a sua terra natal.
BIBLIOGRAFIA
POESIA
- 1919 - Livro de Mágoas. Lisboa: Tipografia Maurício
- 1923 - Livro de Sóror Saudade. Lisboa: Tipografia A Americana.
- 1931 - Charneca em Flor. Coimbra: Livraria Gonçalves.
- 1931 ______________ (com 28 sonetos inéditos). Coimbra: Livraria Gonçalves.
- 1931 - Juvenília: versos inéditos de Florbela Espanca. Estudo crítico de Guido Battelli. Coimbra: Livraria Gonçalves.
- 1934 - Sonetos Completos (Livro de Mágoas, Livro de Sóror Saudade, Charneca em Flor, Reliquiae). Coimbra: Livraria Gonçalves.
PROSA
- 1931 - As Máscaras do Destino. Porto: Editora Marânus.
- 1981 - Diário do Último Ano. Prefácio de Natália Correia. Lisboa: Livraria Bertrand.
- 1982 - O Dominó Preto. Prefácio de Y. K. Centeno. Lisboa: Livraria Bertrand.
COLETÂNEAS
- 1985/86 - Obras Completas de Florbela Espanca. 8 vols. Edição de Rui Guedes. Lisboa: Publicações Dom Quixote.
- 1994 - Trocando Olhares. Estudo introdutório, estabelecimento de textos e notas de Maria Lúcia Dal Farra. Lisboa: Imprensa Nacional/ Casa da Moeda.
EPISTOLOGRAFIA
- 1931 - Cartas de Florbela Espanca (A Dona Júlia Alves e a Guido Battelli). Coimbra: Livraria Gonçalves.
- 1949 - Cartas de Florbela Espanca. Prefácio de Azinhal Abelho e José Emídio Amaro. Lisboa: Edição dos Autores.
TRADUÇÕES
- 1926 - Ilha azul, de Georges Thiery. Figueirinhas do Porto.
____ O segredo do marido, de M. Maryan. Biblioteca das Famílias.
- 1927 - O segredo de Solange, de M. Maryan. Biblioteca das Famílias.
____ Dona Quichota, de Georges de Peyrebrune. Biblioteca do Lar.
____ O romance da felicidade, de Jean Rameau Biblioteca do Lar.
____ O castelo dos noivos, de Claude Saint-Jean
____ Dois noivados, de Champol. Biblioteca do Lar.
____ O canto do cuco, de Jean Thiery. Biblioteca do Lar.
- 1929 - Mademoiselle de la Ferté (romance da actualidade) de Pierre Benoit. Série Amarela.
- 1932 - Máxima (romance da actualidade, de A. Palácio Váldes. Coleção de Hoje.
ALGUMAS REEDIÇÕES
- ESPANCA, Florbela. Poemas de Florbela Espanca. Edição preparada pó Maria Lúcia Dal Farra. São Paulo: Martins Fontes, 1997.
_______. Sonetos Completos. 7ª ed. Prefácio de José Régio. Coimbra: Livraria Gonçalves, 1946.
_______. As Máscaras do Destino. 4ª ed. Prefácio de Agustina Besa Luís. Amadora: Bertrand Editora, 1982.
_______. Contos Completos. 2ª ed. Venda Nova: Bertrand Editora, 1995.
_______. Obras Completas de Florbela Espanca, Lisboa: Publicaçőes D. Quixote, 1992.
_______. Obras Completas – Poesia (1903 - 1917). Coleção Obras Completas de Florbela Espanca. Vol. I. Lisboa: Publicações D.Quixote, 1985.
_______. Poesia Completa. Prefácio, organizaçăo e notas de Rui Guedes. Coleção Autores de Língua Portuguesa – Poesia. Venda Nova: Bertrand Editora,1994.
_______. Sonetos. Prefácio de José Régio. Lisboa: Bertrand Editora, 1982.
***
Nenhum comentário:
Postar um comentário